Inovações no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio
Anna Flávia Candido¹, Camile Araújo¹, Julia Rodrigues Barros¹, Kaique Bruno da Silva Paixão¹, Luiza Cristina¹, Mariana Almeida¹, Maria Vitória¹, Nayara Ferreira¹, Yago Nunes²
¹Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
²Graduando do curso de Medicina (UFSJ-CCO)
v.2, n.2, 2024
Fevereiro de 2024
O infarto agudo do miocárdio (IAM), popularmente conhecido como “ataque cardíaco”, é uma condição cardíaca crítica que exige diagnóstico precoce para um tratamento efetivo. É caracterizado pela ausência ou diminuição da circulação sanguínea na musculatura do coração (miocárdio), consequência da obstrução de uma artéria coronária que levaria sangue até este local. Assim sendo, com o bloqueio do caminho do sangue interrompe-se a irrigação do músculo cardíaco, o que causa lesão tecidual podendo conduzir à necrose (morte celular), neste caso na região específica do coração que deixou de receber o fluxo sanguíneo necessário [1,2].
A principal causa conhecida é a "aterosclerose", uma doença na qual as placas de gordura (ateromas), se acumulam nas artérias coronárias as obstruindo, ou seja, impedindo a circulação normal do sangue, dificultando a chegada deste ao músculo cardíaco. Na grande maioria dos casos o infarto acontece como consequência do desprender destas placas do tecido formando fragmentos que podem viajar pelos vasos causando a obstrução em regiões mais estreitas que a dimensão dos mesmos [2,3]. Tal evento compromete o funcionamento do coração de maneira a depender da área afetada. Segundo o Ministério da Saúde, o IAM é a maior causa de mortes no país. Estima-se que, no Brasil, ocorram de 300 mil a 400 mil casos anuais de infarto e que a cada 5 a 7 casos, ocorre um óbito, apresentando assim o quadro, uma alta taxa de mortalidade.
Dentre os sintomas que possam surgir no IAM está o desconforto no tórax, podendo ou não ser acompanhado de dificuldade para respirar (dispneia), náuseas e/ou transpiração intensa (diaforese), sensação de aperto ou dor no peito, pescoço, costas ou nos braços, bem como fadiga, tontura, vômito, batimento cardíaco anormal e ansiedade. Estima-se que algumas pessoas não apresentam a dor típica do infarto, portanto, não é necessário que a pessoa apresente todos esses sintomas possíveis de ocorrerem no IAM. Porém, o atendimento de urgência e emergência, nos primeiros minutos, é fundamental para salvar a vida do paciente devido tanto ao fato de alta mortalidade estar associada ao infarto, como no caso de sobrevivência, incidência considerável de sequelas que poderem trazer prejuízos severos à qualidade de vida do indivíduo [1-3].
Dentre os métodos atuais para obtenção do diagnóstico, o eletrocardiograma (ECG) é de extrema importância, devendo ser realizado com a maior rapidez possível [4] (p. ex., 10 minutos após a apresentação dos sintomas) (Figura 1a). O ECG faz uso de eletrodos para captar a atividade elétrica do coração, expressa em gráficos de linha (Figura 1b). Alterações específicas devem ser identificadas para confirmar o diagnóstico com precisão e adotar a conduta correta para o tratamento do paciente, evitando a morte e reduzindo sequelas após o IAM [5].
Outro meio utilizado para diagnosticar o infarto são os marcadores cardíacos. Através de exames laboratoriais é possível identificar o aumento na concentração de algumas substâncias químicas que revelam o quadro do paciente, chamadas marcadores bioquímicos cardíacos. Na situação de IAM estes são liberados na corrente sanguínea após lesão do tecido miocárdico pela morte de células. Estes marcadores podem ser enzimas cardíacas (proteínas com função de catalisadores de reações que ocorrem dentro de células cardíacas) como a Creatina Quinase (CK-MB), ou conteúdos celulares que deveriam estar dentro das células e vão ao sangue como consequência da morte celular (por exemplo, as proteínas troponina I, troponina T e mioglobina). A dosagem destes permite a avaliação da extensão e gravidade do dano cardíaco [6].
Figura 1: a. Conduta perante paciente com suspeita de IAM; b. ECG.
Fonte: Gov.br e 2010 - Wikipedia Commons, respectivamente
Nem todos estes marcadores possuem a mesma precisão em revelar a atual condição do paciente. A CK-MB, por exemplo, é menos sensível e específica pois algum teor desta é encontrado no sangue de indivíduos sadios e níveis altos deste marcador podem também estar presentes em pacientes com lesão no músculo esquelético ao invés do cardíaco [6].
Por outro lado, a Troponina I é altamente específica e sensível para a necrose miocárdica, uma vez que sua concentração está diretamente relacionada à extensão do dano no músculo cardíaco. Ela não está presente em pessoas saudáveis e seu nível aumenta proporcionalmente ao tamanho da área lesionada pelo infarto do miocárdio, como ilustrado na Figura 2 [6].]
Técnicas avançadas de imagem, como a ressonância magnética cardíaca e a tomografia computadorizada também fornecem informações detalhadas sobre a anatomia cardíaca e aspectos relacionados ao bombeamento do sangue (perfusão), contribuindo para o diagnóstico diferencial. É de extrema importância a evolução contínua dessas técnicas, para avanço no diagnóstico, proporcionando melhor conduta clínica.
Figura 2: Curva de marcadores tumonares ao longo de um infarto.
Fonte: CENTERLAB.
Neste sentido, novos biomarcadores são interessante ferramenta para um diagnóstico rápido e preciso. A Dra. Gabriela Venturini dedica-se, desde o mestrado em Ciências Médicas na Universidade de São Paulo ao estudo destes novos marcadores. Durante o mestrado a brasileira investigou alvos proteicos com potencial de diagnóstico e indicativo de prognóstico (possível evolução futura do quadro clínico) em doenças arteriais coronárias. No dado estudo, Venturini identificou a troponina I cardíaca em versão nitrada como um novo biomarcador para isquemia cardíaca. Por meio de estudo e experimentos realizados, observou-se a troponina I cardíaca nitrada no soro poucos minutos após o evento cardíaco e permaneceu circulante por até 24 horas. Por fim, concluiu-se que essa proteína é um potencial marcador circulante sensível para o diagnóstico precoce e análise de prognóstico de isquemia cardíaca com ou sem necrose do miocárdio [7].
Com melhor condição de diagnóstico um melhor tratamento pode ser oferecido de maneira mais rápida e específica. Logo, avanço em métodos diagnósticos são de grande necessidade e importância para a redução de danos do Infarto Agudo do Miocárdio. Estudos como o de Gabriela Venturini contribuem de forma relevante com esse avanço, elucidando, por exemplo, novos biomarcadores. A pesquisa na área deve continuar para identificação de moléculas capazes de oferecer um nível crescente de sensibilidade e especificidade no diagnóstico, viabilizando atendimento precoce e melhorando o prognóstico do paciente, reduzindo-se mortalidade e sequelas associadas ao IAM.
Referências Bibliográficas
[1] BETT, MS et al. Infarto agudo do miocárdio: Do diagnóstico à intervenção. Research, Society and Development, v. 11, n. 3, p. e23811326447-e23811326447, 2022.
[2] GOV.BR - Infarto. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/i/infarto#:~:text=O%20Infarto%20Agudo%20do%20Mioc%C3%A1rdio. Acesso em: 09 fev. 2024.
[3] Chor D, Mendes da Fonseca MJ, Andrade CR - Doenças cardiovasculares. Comentários sobre a mortalidade precoce no Brasil. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 64, p. 15-19, 1995.
[4] López-Sendón, J; de Sá, EL. Nuevos criterios de diagnóstico de infarto de miocardio: orden en el caos. Revista española de cardiología, v. 54, n. 6, p. 669-674, 2001.
[5] TELEMEDICINA MORSCH - ECG e infarto: como identificar IAM no eletrocardiograma. Disponível através do link: https://telemedicinamorsch.com.br/blog/ecg-infarto. Acesso em: 09 fev. 2024.
[6] CENTERLAB - Marcadores Cardíacos. Disponível através do link: https://www.centerlab.com/blog/Centernews_111/. Acesso em: 09 fev. 2024.
[7] da Silva, GV. Identificação de alvos proteicos com potencial diagnóstico e prognóstico em doença arterial coronária. Disponível através do link: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5166/tde-31072012-111044/pt-br.php. Acesso em: 09 fev. 2024.