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Impressão 3D como ferramenta na área médica

Ana Clara da Cunha, Anderson Fernandes de Oliveira Filho, Arthur Lage Leão, Débora Célia Viana Silva,  Guilherme Augusto da Silva Barbosa, Helena Catizani Franco de Faria, Julia Martins Santos Sousa, Rafael Lacerda Leão de Oliveira, Stella Honório Prado, Yana Sofia de Jesus Oliveira

Graduandos do curso de Medicina (UFSJ-CCO)

v.1, n.3, 2023
Novembro de 2023

Há algumas décadas, a ideia de criar objetos tridimensionais (3D) complexos em uma impressora era roteiro de filmes de ficção científica. Contudo, essa ideia se transformou em realidade a partir do desenvolvimento da impressão 3D e da modelagem digital. Desde a sua concepção, essa técnica, não só revolucionou a indústria da manufatura, mas também ampliou seus campos de aplicação, chegando até mesmo na medicina.

 

A impressão 3D (Figura 1) é um método de produção que constrói objetos tridimensionais de forma aditiva, ou seja, camada por camada, a partir de um arquivo digital. A peça que está sendo impressa vai recebendo novas camadas por ação da impressora, e por esta razão a técnica é também conhecida como fabricação aditiva. Sua origem remonta a 1983, quando Charles Hull, engenheiro norte-americano, introduziu a estereolitografia, um processo que usava um feixe de laser para solidificar sucessivas camadas de resina. Esse acontecimento marcou o início de uma revolução na manufatura.

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Figura 1: Impressão 3D.

Fonte: Flickr [6].

Apesar das múltiplas aplicações da fabricação aditiva, é na medicina que atualmente estão depositadas as maiores expectativas. Devido à gama de possibilidades que a impressão 3D oportuniza, inúmeros trabalhos estão sendo desenvolvidos a fim de consolidar essa tecnologia como mais uma estratégia terapêutica na área médica. As contribuições nesta área estendem-se desde o uso na fabricação de remédios e próteses personalizadas até a impressão de tecidos e órgãos a partir de outras células; logo, a técnica pode viabilizar, por exemplo, construir material para transplante, diminuindo-se a espera do paciente e talvez até mesmo reduzindo ou anulando a chance de rejeição do órgão transplantado.

A impressão 3D tem permitido a fabricação de objetos personalizados para diversos objetivos [1]. O primeiro passo para a impressão 3D, é ter uma versão digital (modelo), criada por um programa de computador. Depois o molde é inserido em um outro programa fatiador, que converte o modelo na linguagem da impressora, em camadas, definindo também alguns itens importantes, como posição, velocidade e temperatura, responsáveis pela orientação da máquina no processo [2]. Assim como uma impressora libera tinta sobre o papel, a impressora 3D vai liberar determinado material, para construir o objeto desejado sobre uma bandeja, lançando o material camada por camada, unindo-as, de baixo para cima, levando de minutos até dias a depender da complexidade do objeto a ser impresso [1].

Devido à grande demanda de doação de órgãos e mortalidade de pacientes à espera de um doador, a bioimpressão (técnica que utiliza produtos biológicos como material para montagem de tecidos e órgãos, por impressão 3D) surgiu como uma solução potencial para esse problema [3,4]. Avanços tecnológicos permitiram a impressão de células-tronco, construção de órgãos e vasos, possibilitando a formação de tecidos sob demanda humana. Por exemplo, em 2016, a empresa americana Celprogen Inc. obteve um pâncreas humano a partir de células-tronco utilizando esta técnica de impressão [3]. Essa prática ainda é uma promessa para a medicina, pois demonstra permitir a impressão de partes de diversos sistemas que são compatíveis com o organismo humano (minimizando problemas com efeitos tóxicos e rejeições), viabilizar o reparo de tecidos (mesmo os complexos em vascularização e inervação) e oportunizar a aplicação de medicamentos direcionados [5].

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Figura 2: Implante 3D para lesão medular.

Fonte: UC San Diego Today [9].

O alcance de utilização da impressão tridimensional, conhecida também como manufatura aditiva, tem-se expandido consideravelmente [7], a impressão 3D está impulsionado a medicina (Figura 2) com próteses personalizadas, dispositivos médicos complexos, modelos anatômicos precisos e bioimpressão de tecidos e órgãos. Próteses ajustadas individualmente aumentam conforto e funcionalidade. Modelos anatômicos refinam planejamento cirúrgico, otimizando resultados e tempo.

 

A bioimpressão experimental promete revolucionar a medicina regenerativa, criando órgãos personalizados para transplantes. Esses avanços impactam pacientes e profissionais médicos de maneira notável, oferecendo novas perspectivas na busca pela melhoria dos cuidados de saúde [8].

Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv desenvolveram uma abordagem inovadora usando impressão 3D para criar tecido cardíaco funcional. Usando "tintas biológicas" compostas por células humanas e matriz extracelular, eles construíram fragmentos de tecido com vasos sanguíneos, visando tratar o miocárdio danificado, por exemplo devido a infarto. Esses fragmentos, com cerca de 2 mm de espessura, exibiram propriedades elétricas similares às do coração humano e se aproximaram das características imunológicas e bioquímicas do doador das células, reduzindo riscos de rejeição. A equipe também conseguiu imprimir "corações" em miniatura, com vasos e ventrículos, mas desafios permanecem para aplicação em órgãos humanos completos. Produção celular, maturação e criação vascular são obstáculos a superar para viabilizar essa técnica [10].

A impressão 3D tem impulsionado significativos avanços na medicina, no entanto, alguns desafios ainda persistem. Por exemplo, selecionar materiais apropriados para essa técnica, especialmente os biocompatíveis (que não venham a oferecer efeitos tóxicos aos pacientes), ainda é restrita, o que pode limitar a criação de dispositivos médicos complexos. A resolução da impressão 3D é determinada pelo tamanho das partículas depositadas, impactando a precisão da produção, sobretudo em estruturas intrincadas. Além disso, a restrição de tamanho também é uma barreira, impedindo a fabricação de objetos de maior escala, como órgãos humanos de maior escala. A duração do processo de impressão é prolongada, tornando-a menos adequada para situações emergenciais. Por último, os custos da impressão 3D, especialmente quando aplicada à produção de objetos personalizados ou dispositivos médicos complexos, continuam a ser um desafio. Superar essas limitações é fundamental para maximizar o potencial benéfico da impressão 3D na área da saúde [8].

Referências Bibliográficas

[1] FIA. Impressão 3D: O que é, Como funciona e Exemplos de Aplicações. Disponível através do link: https://fia.com.br/blog/impressao-3d/#:~:text=a%20impress%C3%A3o%203D%3F-. Acesso em: 03 nov. 2023.

[2] Mousta Impressoras 3D. O que é impressão 3D? Guia definitivo. Disponível através do link: https://www.mousta.com.br/o-que-e-impressao-3d/. Acesso em: 03 nov. 2023.

‌[3] Trenfield SJ, et al. Shaping the future: recent advances of 3D printing in drug delivery and healthcare. Expert opinion on drug delivery.Disponível através do link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31478752. Acesso em: 03 nov. 2023.

[‌4] Oliveira NA, et al. Bioimpressão e produção de mini-órgãos com células tronco. Disponível através do link: https://paperity.org/p/186335727/bioimpressao-e-producao-de-mini-orgaos-com-celulas-tronco. Acesso em: 03 nov. 2023.

‌[5] Gao G, Cui X. Three-dimensional bioprinting in tissue engineering and regenerative medicine. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26466597/. Acesso em: 03 nov. 2023.

[6] Los Alamos National Laboratory. An explosion of 3D printing technology. Disponível através do link: https://www.flickr.com/photos/losalamosnatlab/18053087525. Acesso em: 03 nov. 2023.

[7] Revista FAPESP. Avanço da impressão 3D. Disponível através do link: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-avanco-da-impressao-3d/. Acesso em: 03 nov. 2023.

[8] Matozinhos IP, et al. Impressão 3D: Inovações no Campo da Medicina. Disponível através do link: https://revista.fcmmg.br/index.php/RICM/article/view/63. Acesso em: 03 nov. 2023.

[9] Today UCSD. 3D Printed Implants Show Promise for Treating Spinal Cord Injury. Disponível através do link: https://today.ucsd.edu/story/3d-printed-implants-show-promise-for-treating-spinal-cord-injury. Acesso em: 03 nov. 2023.

[10]  MEDSCAPE. Impressora 3D faz fragmentos de tecido cardíaco e um pequeno “coração”. Disponível através do link: https://portugues.medscape.com/verartigo/6503487#vp_1. Acesso em: 03 nov. 2023.

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