Entrevista:
André de Oliveira
ANDRÉ GUSTAVO DE OLIVEIRA
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também realizou mestrado e doutorado em Biologia Celular.
Atualmente é professor e pesquisador do departamento de Fisiologia e Biofísica na mesma universidade e revisor de diversos periódicos especializados. Sua linha de pesquisa compreende a Fisiologia reprodutiva e danos hepáticos.
Antonio Lucas Oscar da Penha de Mattos¹, Bruna Pires Rodrigues¹, Carolina Souza Rabelo Ferreira¹, Filipe Henrique Souza², Higor Tavares Guimarães³, Isabele Rumblesperger Gomes¹, Mitzy Stephanny Machado⁴, Pedro Henrique de Castro Silva⁴
¹Graduandos do curso de Enfermagem (UFSJ-CCO)
²Graduando do curso de Medicina (UFSJ-CCO)
³Graduando do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
⁴Graduandos do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
v.2, n.3, 2024
Março de 2024
1. Quando percebeu que possuía interesse por ciência?
É comum escutarmos de cientistas que o interesse pela ciência surgiu na infância. Comigo foi diferente. Surgiu só na Universidade mesmo, quando tive a oportunidade de trabalhar como aluno de Iniciação Científica. No primeiro período do curso (Ciências Biológicas), eu estava procurando um "estágio" para começar a construir currículo mesmo. Consegui uma vaga no Laboratório de Morfologia de Aves no Departamento de Morfologia da UFMG, orientado pela Profa. Dra. Cleida Oliveira. Foi quando tive contato com a ciência pela primeira vez. Aí sim surgiu o interesse por ciência: fiquei maravilhado não só com as técnicas, mas, principalmente, pelo processo de fazer perguntas inéditas e trabalhar tentando respondê-las.
2. Teve dúvidas ao realizar a escolha do curso de graduação?
Sim! Tive sim! Na minha época a gente fazia vestibular. Cada Instituição de Ensino Superior tinha o seu. Quando me formei no Ensino Médio, eu tinha convicção que queria ser médico. Não passei. No ano de cursinho pré-vestibular é que eu conheci melhor os cursos e percebi que o curso de Ciências Biológicas era o que mais me atraía. Não foi fácil mudar, mas fico feliz pela atitude que tive. Sou apaixonado pelo curso que fiz, apesar de reconhecer que o mercado de trabalho para o Biólogo é muito difícil!
3.O que considera ter sido decisivo em sua escolha por seguir a carreira científica?
A minha orientadora (Profa. Dra. Cleida Oliveira) que esteve comigo desde a minha Iniciação Científica até o meu Doutorado. Ela me formou como o cientista que sou hoje e, também, como professor. Do ponto de vista prático, foi também o momento em que o Brasil estava durante minha trajetória acadêmica: os investimentos em ciência aumentaram (verba para laboratórios, número de bolsas, etc) e eu consegui fazer tudo o que foi planejado. Também vivenciei a época do Ciências sem Fronteiras e consegui trabalhar por um ano em Yale. Este período foi também marcado por maior disponibilidade de vagas para professor nas Universidades. Se eu precisar resumir em uma palavra: perspectiva. Eu tive perspectiva, por isso tive a possibilidade de incluir a carreira científica como escolha em meu futuro. Hoje, infelizmente, esse cenário é bem diferente.
4. Qual a principal motivação para seguir trabalhando com ciência no Brasil?
Eu gosto da imprevisibilidade do meu trabalho: cada dia é uma ideia, um rumo diferente que as coisas tomam. Isso é muito desafiador. E fazer isso num contexto de estabilidade de carreira é muito prazeroso.
5. Qual a principal dificuldade que enfrenta trabalhando com ciência no Brasil?
O financiamento escasso. É muito ruim ver cientistas com uma formação de qualidade única e com ideias geniais não conseguindo desenvolver seus trabalhos porque não há investimento suficiente. É importante lembrar que existe uma altíssima correlação entre financiamento em ciência e inovação.
6.O que gostaria de dizer para quem deseja seguir a carreira científica?
Se você está lendo esta entrevista, o caminho é o tradicional: graduação, pós-graduação, pós-doutorado. Mas durante esse caminho, não se restrinja apenas à sua área de pesquisa. Foque nessa área, mas leia sempre artigos de áreas diversas, aprenda uma linguagem de programação (o básico) e exercite conectar os saberes. Em conjunto, essas coisas contribuirão para você criar sua identidade como cientista, que é o mais importante quando você começar a construir o seu grupo de pesquisa!
7. Você é um pesquisador e professor bem presente nas redes sociais, falando sobre ciência, pesquisa e sua vida em geral. Dentre os tópicos pessoais, fazem parte os transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Sabe-se que são problemas crescentes na população como um todo e bem presentes na comunidade acadêmica. Você teria algumas dicas ou algo que gostaria de falar para quem se encontra nessa situação?
O problema da saúde mental no meio acadêmico já vem sendo estudado e é realmente muito preocupante. Eu falo da minha experiência pessoal porque muitas pessoas se reconhecem nos meus relatos, se sentem acolhidas, entendem que não são as únicas a passarem por isso.
O ponto fundamental para contornar esse problema são os tratamentos psicofarmacológicos e/ou psicoterapêuticos. Não tenha medo de procurar ajuda profissional. Não tenha medo dos remédios, se forem necessários. Não tenha medo de conversar, quando precisar. Os tratamentos são demorados (às vezes são para o resto da vida), mas eles irão aumentar muito a sua qualidade de vida. E no fim, esse é um ponto importante para todos nós!
Infelizmente, a busca pela saúde mental é cara e, por isso, excludente. Penso que pode haver uma discussão em grupo para discutir com as instituições sobre alternativas reais e viáveis para membros da comunidade acadêmica.