
Vacinas inativadas
Ana Luiza Menezes Barbosa¹, Ana Elisa do Amaral Souza², Bruna Aparecida Vieira Mathias¹, Ester Souza de Faria¹, Geovana de Souza Rodrigues¹, Izabelle Catarine Gonçalves Maia¹, Maria Eduarda de Oliveira Lima¹
¹ Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ CCO)
² Graduanda do curso de Farmácia (UFSJ CCO)
v.3, n.11, 2025
Novembro de 2025
No início do século XX, o Brasil enfrentou uma das revoltas mais marcantes para a saúde pública: a Revolta da Vacina. Por volta de 1903, o Rio de Janeiro recebia grande número de estrangeiros que vinham trabalhar nas lavouras de café. Entretanto, as reformas de modernização das cidades, somadas ao intenso deslocamento populacional, favoreceram a proliferação de diversas doenças, entre elas a varíola. Diante desse cenário, o médico Oswaldo Cruz, contratado pelo governo, implantou a vacinação obrigatória da população. A medida, porém, gerou grande resistência e protestos, revelando a desinformação em torno das vacinas. Mais de um século depois, apesar dos avanços da ciência, o desafio de comunicar a importância da vacinação persiste; no entanto, as vacinas se destacam pela segurança e eficácia no combate às doenças infecciosas [1].
As vacinas são uma grande conquista da saúde pública e desempenham um papel essencial na proteção contra doenças infecciosas, salvando vidas e promovendo o bem-estar da sociedade. A aplicação das vacinas tem ajudado a reduzir as complicações provocadas por infecções causadas por diversos microrganismos causadores de doenças, prevenindo casos graves que poderiam até levar à morte [2]. A imunização (geração de proteção) ocorre quando nosso organismo é exposto a certas substâncias, conhecidas como antígenos, que despertam o sistema de defesa (imunológico) para se preparar contra possíveis infecções [3]. Esses antígenos, presentes nas vacinas, podem ser associados a componentes chamados adjuvantes, que têm a função de fortalecer e tornar essa resposta de defesa ainda mais eficiente [4]. Entre os diferentes tipos de vacinas disponíveis, a inativada se destaca por oferecer um alto nível de segurança e eficácia, sendo amplamente utilizada em diversas estratégias de proteção contra doenças.
As vacinas inativadas são desenvolvidas a partir de microrganismos cultivados em laboratório que passam por processos de inativação, como exposição ao calor ou a substâncias químicas tóxicas. Esses métodos eliminam sua capacidade de se multiplicar no organismo e causar doenças, mas preservam algumas partes que os fazem ser reconhecidos pelo sistema imunológico e para o desenvolvimento de uma resposta de defesa [5].
Em relação ao número de doses, para esse tipo de vacina necessita-se de duas ou mais para garantir a proteção. A primeira dose tem como objetivo sensibilizar o organismo, enquanto as outras doses tem como objetivo fortalecer a resposta imunológica e conferir uma defesa mais efetiva. Ainda assim, o uso de adjuvantes é necessário para garantir uma resposta melhor (mais intensa) e mais duradoura [6,7]. No entanto, esse tipo de vacina apresenta menor resposta imune quando comparado às vacinas atenuadas (aquelas em que o microrganismo aplicado nas pessoas está vivo e apenas enfraquecido até ser incapaz de induzir doenças no indivíduo). Apesar disso, as vacinas inativadas são consideradas mais seguras, uma vez que não há risco de reversão da virulência, ou seja, risco de se causar a doença como consequência da aplicação do agente vivo, atenuado apenas [5,6].

Figura 1: Vacina inativada desenvolvida contra o vírus influenza.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vacina_contra_H1N1.jpg.
Um exemplo relevante da vacina inativada é a vacina contra influenza (Figura 1), considerada imprescindível para a saúde pública no Brasil. A versão mais comumente utilizada da vacina é a inativada trivalente, administrada por via intramuscular [3].
O vírus da influenza pode ser inativado com substâncias químicas, como formaldeído e β-propiolactona. No entanto, por ser um método de inativação demorado, atualmente é mais comum o uso de radiação ultravioleta (UV) ou radiação gama, sendo esta última mais rápida e eficiente para inativar o vírus [8].
Ainda assim, a cada ano, as três cepas de influenza mais recorrentes são selecionadas e incorporadas na vacina, para tê-la atualizada [3].
Além da influenza, outras vacinas inativadas amplamente utilizadas incluem a vacina contra hepatite A e contra a poliomielite (versão inativada, IPV) [9]. Essas vacinas são essenciais especialmente em populações com maior vulnerabilidade imunológica (menor eficiência de defesa), como crianças, idosos e imunocomprometidos.
Diante disso, fica evidente que as vacinas inativadas são fundamentais no controle de diversas doenças infecciosas. Mesmo com uma resposta imunológica menor em comparação às vacinas vivas atenuadas, elas se destacam por sua segurança, sendo importantes, principalmente, para crianças, idosos e imunossuprimidos [5,6,9]. Além disso, os avanços nos métodos de inativação têm tornado sua produção mais rápida e eficaz [8]. Em um cenário no qual a resistência à vacinação ainda é um obstáculo, reforçar a importância das vacinas com base em evidências históricas é essencial para garantir a proteção da população [1].
Referências Bibliográficas
[1] Nogueira RASB. et al. A revolta da vacina e seus impactos. Científic@ - Multidisciplinary Journal, 2021. Disponível através do link: https://revistas.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/article/view/5914/4159. Acesso em: 05 nov. 2025.
[2] Zepp F. Principles of vaccine design—Lessons from nature. Vaccine, 2010. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20713252/. Acesso em: 05 nov. 2025.
[3] Abbas A. Imunologia celular e molecular – 7ª edição. Elsevier Brasil, 2012. Acesso em: 05 nov. 2025.
[4] Vilanova M. Vacinas e imunidade. Revista de Ciência Elementar, 2020. Disponível através do link: https://rce.casadasciencias.org/rceapp/art/2020/021/. Acesso em: 05 nov. 2025.
[5] Tizard I. R. Imunologia Veterinária - Uma Introdução. Editora Roca, 2002. Acesso em: 05 nov. 2025.
[6] Chagas S. et al. Vacinas e suas reações adversas: revisão. Pubvet, 2019. Disponível através do link: https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/786. Acesso em: 05 nov. 2025.
[7] Pasquale A. et al. Vaccine Adjuvants: from 1920 to 2015 and Beyond. Vaccines, 2015. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26343190/. Acesso em: 05 nov. 2025.
[8] Sabbaghi A. et al. Inactivation methods for whole influenza vaccine production. Reviews in Medical Virology, 2019. Disponível através do link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/rmv.2074. Acesso em: 05 nov. 2025.
[9] Fonseca Pinto E. et al. Vacinas: progressos e novos desafios para o controle de doenças imunopreveníveis. Acta Biológica Colombiana, 2011. Disponível através do link: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=319027888014. Acesso em: 05 nov. 2025.