
Vacinas de mRNA: Fundamentos, Vantagens e Desafios Atuais
v.3, n.11, 2025
Novembro de 2025
Alexandra Rodrigues Costa¹, Letícia França Rocha¹, Isabela Lorena dos Anjos Silva¹, Izabela Oliveira Carvalho¹, Thainara Marques Morais de Oliveira¹, Gabriela Vasconcelos Britto², Gabriela Panhoca Rodrigues², Maria Cláudia Sanguinete Santos²
¹Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ CCO)
²Graduandas do curso de Medicina (UFSJ/CCO)
Ao longo dos últimos anos, a vacinação tem se consolidado como uma das ferramentas mais eficazes na prevenção de doenças infecciosas e na proteção coletiva. Com o avanço da biotecnologia, novas abordagens vêm sendo desenvolvidas, entre elas as vacinas baseadas em ácido ribonucleico mensageiro (mRNA), que se destacam pela inovação na indução de uma resposta imunológica específica e eficiente.

Figura 1: Frasco de vacina contra a covid-19 baseada em RNA mensageiro (mRNA).
Fonte: Spencerbdavis/Wikimedia Commons
A tecnologia deste tipo de imunizante (vacina) permite que o organismo humano produza e reconheça componentes do vírus (proteínas inofensivas). Estas são produzidas nas células do vacinado a partir da sequência de mRNA (que contém as instruções para a produção) introduzida pela vacina. Este tipo de vacina ativa dois tipos de resposta de defesa (imunológica): a resposta celular, em que os linfócitos T (células especializadas) identificam e destroem células infectadas, e a resposta humoral, na qual os linfócitos B (células) produzem anticorpos (proteínas especializadas de defesa) que se ligam ao agente causador de doença e impedem sua entrada nas células [1-3].
Esse mecanismo de vacinas ganhou destaque sobretudo durante a pandemia de Covid-19, quando imunizantes baseados nessa plataforma demonstraram elevada eficácia em tempo recorde de desenvolvimento, marcando uma nova fase na história da vacinação mundial [2,3].
O interesse por essa tecnologia, no entanto, ultrapassa o contexto da pandemia. Estudos recentes exploram seu uso em outras áreas, como no tratamento de doenças autoimunes (causadas por reações indesejadas do próprio organismo) e neoplásicas (diferentes tipos de cânceres). Tais estudos foram impulsionado pela possibilidade de personalização da vacina, perfil de segurança e adaptabilidade frente a diferentes antígenos – estruturas presentes em agentes causadores de doenças e reconhecidas pelo sistema imunológico como alvos a serem combatidos [2,3].
Apesar disso, desafios persistem, como os associados a armazenamento e transporte sem prejudicar o funcionamento da vacina, disseminação de desinformação sobre a vacinação e sua importância e a necessidade de monitoramento contínuo de possíveis efeitos adversos (visto que é uma modalidade de vacina mais recente). Nesse cenário, torna-se fundamental compreender os princípios que regem essa tecnologia, suas vantagens em relação a outras estratégias vacinais, bem como suas aplicações mais recentes e limitações.
O entendimento do mecanismo de ação das vacinas de mRNA é essencial para entender-se como essa plataforma induz proteção imunológica e quais fatores contribuem para seu desempenho em diferentes contextos. A formulação administrada nos seres humanos é comumente composta das moléculas sintéticas de mRNA geralmente encapsuladas em nanopartículas lipídicas (partículas muito pequenas feitas de componentes de óleos e gorduras); estas partículas protegem o mRNA da degradação e facilitam sua entrada nas células dos vacinados. Uma vez dentro destas células o mRNA é liberado e a informação nele contida é usada para a produção de proteína do agente causador de doença (vírus, por exemplo). Os produtos proteicos são então processadas e apresentados na superfície celular por moléculas conhecidas como Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC). A partir disso, as células do sistema imune podem ter acesso ao conteúdo do agente infeccioso e iniciar uma resposta imunológica que ativa linfócitos T (dos tipos CD4+ e CD8+), além de estimular a produção de anticorpos neutralizantes pelas células B [2,3]. Como resultado, desenvolve-se uma memória imunológica que resulta em proteção duradoura, essencial para prevenir infecções futuras causadas pelo mesmo agente.
Entre as vantagens do uso de mRNA na produção de vacinas, destacam-se sua alta potência, rapidez de ação, flexibilidade (pela facilidade de modificação do mRNA conforme o agente causador de doença e o alvo), eficácia (com estímulo robusto e específico ao sistema imunológico para geração de proteção), segurança (por dispensar o uso de agentes causadores de doença vivos ou inativados) e viabilidade (com processos padronizados e rapidez na produção frente a surtos emergentes, como demonstrado na pandemia de Covid-19) [2,3]. Tais características colocam essa plataforma à frente de outras tecnologias vacinais, especialmente em cenários de emergência sanitária como na pandemia.
No entanto, apesar dos avanços, ainda existem questões relevantes a serem consideradas. Entre elas, destaca-se a necessidade de doses de reforço ao longo do tempo para garantir a eficácia da resposta imune. Tem-se observado também que, com o aumento do número de doses aplicadas, há maior ocorrência de efeitos adversos leves a moderados, como dor de cabeça e febre: o que tem contribuído para a que as pessoas não procurem se vacinar diante da desinformação sobre a nova tecnologia. Soma-se a isso a exigência de armazenamento em baixas temperaturas, o que representa um desafio significativo, principalmente em regiões com infraestrutura limitada [2-3].
Além disso, é necessário estabelecer regulamentações específicas para o uso amplo deste tipo de vacina, especialmente diante das dúvidas que ainda persistem sobre aspectos a longo prazo. Embora os imunizantes contra o coronavírus tenham sido os primeiros de mRNA aplicados em humanos [4], novas vacinas com essa plataforma já estão em desenvolvimento para combater outras doenças virais, como gripe e Zika: o que reforça seu papel emergente no futuro da imunização global [1-3].
Referências Bibliográficas
[1] Borah P. et al. mRNA vaccine technology: a new era in vaccinology. Molecular Therapy – Nucleic Acids, v. 37, p. 871–887, 2024. Disponível através do link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1521661624005333. Acesso em: 05 nov. 2025.
[2] Mariuzzo ICA. et al. Vacinas de mRNA: mecanismo de imunogenicidade e eficácia comparada a outras plataformas vacinais. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 10, p. 2537–2547, 2024. Disponível através do link: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/3977. Acesso em: 05 nov. 2025.
[3] Quintanilha TM, Becker R. O. Vacinas de mRNA: uma nova era na produção de imunizantes. Perspectiva: Ciência e Saúde, v. 8, n. 1, p. 4–17, 2023. Disponível através do link: https://cientifica.cnec.br/index.php/revista-perspectiva/article/view/169. Acesso em: 05 nov. 2025.
[4] Silva T, Almeida E. Vacinas SARS-CoV-2: principais características e perspetivas futuras – revisão da bibliografia. Higeia – Edição Especial COVID-19, p. 57–65, 2021. Disponível através do link: https://repositorio.ipcb.pt/entities/publication/77f31a28-5464-4a8c-afab-129e09e864ff. Acesso em: 05 nov. 2025.