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Entrevista:
Gabrielle Caroline Peiter

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GABRIELLE CAROLINE PEITER

Doutora em Bioquímica e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, é professora no Campus Toledo da UFPR e atua como pesquisadora na área de Produtos Naturais, com foco em compostos bioativos e no desenvolvimento de materiais com potencial antimicrobiano. Sua trajetória une ensino, pesquisa e extensão, com um olhar atento para os impactos sociais da ciência. Acredita que o conhecimento precisa ultrapassar os muros da universidade e por isso, também se dedica à divulgação científica nas redes sociais, tornando a ciência mais acessível e inspirando novos cientistas.

Alexandra Rodrigues Costa¹, Letícia França Rocha¹, Isabela Lorena dos Anjos Silva¹, Izabela Oliveira Carvalho¹, Thainara Marques Morais de Oliveira¹, Gabriela Vasconcelos Britto², Gabriela Panhoca Rodrigues², Maria Cláudia Sanguinete Santos²

¹Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ CCO)

²Graduandas do curso de Medicina (UFSJ/CCO)

v.3, n.11, 2025
Novembro de 2025

Quando percebeu que possuía interesse por ciência?

Na verdade, foi algo totalmente aleatório. Um amigo meu do ensino médio comentou que o irmão dele amava muito o curso de Ciências Biológicas e que ele também pretendia fazer. Na época, eu ainda não sabia o que queria da vida. A internet não era tão acessível, eu não entendia direito o que era vestibular e fui me dar conta de tudo no último ano do ensino médio. E, por conta dessa conversa despretensiosa, acabei fazendo o vestibular e foi assim que tudo começou.

Teve dúvidas ao realizar a escolha do curso de graduação?

Não exatamente. Justamente por não saber muito o que queria, acabou sendo essa a única opção. Eu até pensava em Psicologia, mas, na época, não gostava de ler. Quem diria que mais tarde eu leria tanto (risos).

O que considera ter sido decisivo em sua escolha por seguir a carreira científica?

Levou um tempo até esse momento chegar. Durante a graduação, eu sempre trabalhei, então só fui entender de fato o que era a carreira científica no mestrado. Mesmo assim, eu ainda não era uma pessoa muito engajada. Fazia o que precisava ser feito, muitas vezes com pressa para ir embora. A paixão pela pesquisa só nasceu de verdade quando comecei a trabalhar como bolsista técnica, ao mesmo tempo em que fazia o doutorado. Nessa época, comecei a enxergar a ciência de outra forma. Mesmo tendo feito o mestrado e iniciado o doutorado em uma instituição que sempre me proporcionou experiências incríveis, foi em um novo laboratório, em outra instituição, que algo despertou em mim. Conheci pessoas inspiradoras, tive acesso a experimentos e equipamentos diferentes, e, principalmente, passei a sentir prazer em estar no laboratório. Foi ali que entendi que queria seguir esse caminho de verdade.

Por qual razão optou por dedicar-se à área de estudos na qual realiza suas pesquisas?

Hoje trabalho principalmente com extratos naturais de plantas e cogumelos, e essa paixão começou no doutorado. A natureza é incrível, e perceber que eu poderia fazer diferença na vida das pessoas através da pesquisa foi o que me motivou.

Qual a principal motivação para seguir trabalhando com ciência no Brasil?

Ser cientista no Brasil exige mais do que paixão, exige resistência. A verdade é que, por muito tempo, nos foi ensinado que bastava amar a ciência para continuar nela, mesmo diante de cortes de financiamento, falta de infraestrutura e ausência de reconhecimento. Mas não podemos exigir para sempre que um pesquisador trabalhe só por amor. Apesar das dificuldades, continuo porque acredito no impacto que a ciência tem na vida das pessoas. Continuo porque encontrei pessoas incríveis no meu caminho, que me incentivaram, me abriram portas e me mostraram que meu trabalho tem valor. Continuo porque sei que é possível transformar a realidade com pesquisa séria, comprometida e sensível às necessidades da sociedade. Mas seria hipocrisia dizer que só o amor pela ciência sustenta isso. É preciso estrutura, política científica consistente e valorização de quem pesquisa neste país.

Qual a principal dificuldade que enfrenta trabalhando com ciência no Brasil?

A maior dificuldade é transformar boas ideias em realidade diante da falta de financiamento e do pouco reconhecimento da importância da ciência. Ter um projeto promissor, com potencial real de impacto, e ainda assim esbarrar na escassez de recursos é frustrante e, infelizmente, é a regra, não a exceção. Muitas vezes, precisamos lutar para conseguir reagentes básicos, equipamentos funcionando ou até espaço físico adequado. E tudo isso acontece em um cenário onde o trabalho do pesquisador ainda é pouco valorizado pela sociedade e pelas políticas públicas. Fazer ciência no Brasil é resistir todos os dias. E, apesar dos obstáculos, seguimos porque acreditamos no que fazemos.

O que gostaria de dizer para quem deseja seguir a carreira científica?

A ciência é alegria, descoberta e realização. Mas é também e acima de tudo dedicação, sacrifício e momentos de frustração. Não romantize a carreira científica achando que paixão basta. A paixão é o que nos move, mas ela precisa caminhar ao lado de estrutura, reconhecimento e apoio. Você vai se cansar, vai duvidar de si mesma, vai ver experimentos falharem. E tudo bem. Isso faz parte. Mas, se eu puder te dar um conselho, é esse: continue mesmo quando ninguém estiver olhando ou aplaudindo. Porque o que você está construindo importa. Acredite: quando você trabalha com propósito, mesmo nos dias difíceis, está deixando um rastro para que outras pessoas também possam acreditar que é possível.

Você enfrentou ou presencia desafios específicos por ser mulher na ciência? Que mudanças acredita que ainda são necessárias nesse cenário?

Em alguns momentos, sim. Mas confesso que nem sempre consigo distinguir se foi por ser mulher ou por estar em posição de aluna, o que, por si só, já carrega um peso de subordinação. Ainda assim, sei que muitas mulheres enfrentam situações difíceis na ciência, e recebo relatos disso quase todos os dias pelas redes sociais. O que mais vejo é a falta de representatividade feminina nos espaços de decisão. Ainda somos poucas ocupando posições de liderança, com voz ativa e influência real. E isso precisa mudar. Não basta sentar à mesa, é preciso puxar mais cadeiras e garantir que outras mulheres também tenham espaço. Ser exceção não é o suficiente. Precisamos ser presença, ser rede, ser referência. Dar visibilidade às trajetórias femininas, valorizar a diversidade de experiências e mostrar que o caminho na ciência não precisa  e não deve ser solitário. A ciência só avança de verdade quando todas as vozes são ouvidas, inclusive as que historicamente foram silenciadas.

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AUTOR CORPORATIVO DO "À LUZ DA CIÊNCIA"

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