
Biodiesel: alternativa renovável aos combustíveis fósseis
Enzo Pace Raizaro¹, Gabrielle Guimarães Queiroz², Helloysa Gabrielly da Silva Batista Ribeiro², Laila De Vasconcelos², Maria Clara Pedrosa Ferreira³, Maria Luiza de Paula Corrêa², Thaynara Paula Silva³, Vaneza Gomes De Brito²
¹ Graduandos do curso de Medicina - UFSJ-CCO
² Graduandos do curso de Bioquímica - UFSJ-CCO
³ Graduandos do curso de Farmácia - UFSJ-CCO
v.3, n.5, 2025
Maio de 2025
Os combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás natural) são as principais fontes de energia no mundo, atendendo cerca de 80% da demanda global. Eles desempenham um papel fundamental na indústria e no transporte, sendo utilizados em máquinas, carros, caminhões e navios [1]. No entanto, esses combustíveis são formados a partir de fontes de energia não renováveis e podem se esgotar no futuro. Como sua produção depende desses recursos finitos, a redução das reservas desses compostos leva a um aumento nos custos, tornando esse processo cada vez mais caro. Além disso, a queima de combustíveis fósseis libera grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂), causando impactos negativos no meio ambiente [2].
Nesse cenário, o biodiesel (Figura 1) surge como uma alternativa sustentável, pois é produzido a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis e contribuindo para a segurança energética e a redução do impacto ambiental [1]. No Brasil, as principais fontes para sua produção incluem plantas ricas em óleos como soja, milho, girassol, amendoim, algodão, canola, mamona e macaúba, além de óleos residuais e gorduras de origem animal [3].
A produção do biodiesel ocorre principalmente por meio de dois processos químicos. O primeiro é a transesterificação, uma reação química que converte os triglicerídeos (forma de reserva de energia do material utilizado como matéria prima) presentes nos óleos e gorduras em ésteres, os principais componentes do biodiesel. Isso é feito com o uso de álcoois de cadeia curta, ou seja, moléculas com poucos átomos de carbono e um grupo –OH, como o metanol, na presença de catalisadores, que são substâncias que tornam a reação mais rápida. O segundo é a esterificação, em que ácidos graxos livres (estruturas que fazem parte de um triacilglicerídeo) reagem diretamente com um álcool, sendo um processo muito útil para matérias-primas com teor considerável destes ácidos [4].

Figura 1: Biodiesel, o combustível sustentável.
Atualmente, existem quatro gerações de biodiesel, classificadas de acordo com as matérias-primas utilizadas na produção. O biodiesel de primeira geração é produzido a partir de óleos comestíveis, como soja e milho. O de segunda geração utiliza fontes não comestíveis, como a planta jatropha e semente de seringueira, reduzindo a competição com a produção de alimentos. A terceira geração explora fontes alternativas, como microalgas e óleos residuais, aumentando a eficiência e reduzindo os impactos ambientais. Por fim, a quarta geração inclui tecnologias ainda em fase de pesquisa, como os combustíveis solares fotobiológicos, que utilizam luz solar e microrganismos, e os eletrocombustíveis, produzidos a partir do dióxido de carbono e do gás hidrogênio [5].
Uma das principais vantagens do biodiesel, em relação ao diesel obtido do petróleo, é sua menor contribuição para o aumento da concentração de CO₂ — gás que contribui para o aquecimento global — na atmosfera. O biodiesel, por ser produzido a partir de fontes renováveis, permite que as plantas utilizadas em sua produção absorvam CO₂ da atmosfera durante seu crescimento. Quando o biodiesel é queimado, ele libera esse mesmo carbono que foi previamente absorvido, criando um ciclo quase fechado de emissões de carbono [6].
Entretanto, embora o biodiesel traga benefícios ambientais, sua produção e uso ainda enfrentam desafios que impedem sua expansão. A falta de regras claras para o setor e a mudança frequente no percentual obrigatório de biodiesel no diesel geram insegurança para produtores e investidores. Além disso, o biodiesel pode se degradar com o tempo, o que torna seu armazenamento e transporte mais complexos. O custo de produção também pode ser um problema, já que depende de matérias primas que nem sempre são baratas [7].
Mas, mesmo com as dificuldades, o futuro do biodiesel se mostra de grande interesse para o Brasil e o mundo. Nos últimos anos, a busca por essas soluções energéticas menos prejudiciais ao meio ambiente tem ganhado destaque internacional. Em 9 de setembro de 2023, durante o encontro do G20 (grupo dos 20 países mais ricos do mundo), foi lançada a Aliança Global para os Biocombustíveis (GBA), com a participação, por exemplo, do Brasil, Argentina, Índia e Estados Unidos, com o objetivo de incentivar o uso sustentável desses combustíveis em escala global [8].
No Brasil, essa iniciativa se alinha ao Projeto de Lei Programa Combustível do Futuro (PLPCF), apresentado ao Congresso Nacional no mesmo ano, que estimula o uso de biocombustíveis como parte de uma estratégia para promover o deslocamento das pessoas produzindo pouco CO₂ e cumprir com as metas ambientais [9]. Com políticas bem definidas e investimento em biotecnologia, o biodiesel tem potencial para se afirmar como uma alternativa viável e sustentável para o futuro.
Referências Bibliográficas
[1] Huang D et al. Biodiesel: an alternative to conventional fuel. Energy Procedia, v. 16, p. 1874-1885, 2012. Disponível através do link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1876610212002974. Acesso em: 04 mai. 2025.
[2] Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Fontes de energia. Disponível através do link: https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/fontes-de-energia. Acesso em: 04 mai. 2025.
[3] Embrapa. Biodiesel. Disponível através do link: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/agroenergia/biodiesel. Acesso em: 04 mai. 2025.
[4] Dabdoub MJ et al. A. Biodiesel: visão crítica do status atual e perspectivas na academia e na indústria. Química Nova, v. 32, n. 3, p. 776-792, 2009. Disponível através do link: https://core.ac.uk/download/pdf/37449964.pdf. Acesso em: 04 mai. 2025.
[5] Binhweel F et al. Recent trends, potentials, and challenges of biodiesel production from discarded animal fats: a comprehensive review. Bioenergy Research, v. 16, n. 2, p. 778-800, 2022. Disponível através do link: https://link.springer.com/article/10.1007/s12155-022-10527-w. Acesso em: 04 mai. 2025.
[6] Knothe G et al. Biodiesel production: a review. Fuel Processing Technology, v. 86, n. 10, p. 1097-1107, 2005. Disponível através do link: https://doi.org/10.1016/j.fuproc.2004.11.002. Acesso em: 04 mai. 2025.
[7] ClubPetro. Biodiesel: expectativas para 2025 e os desafios pela frente. Disponível através do link: https://blog.clubpetro.com/biodiesel-expectativas-para-2025-desafios/#:~:text=Apesar%20de%20n%C3%A3o%20ter%20um,de%20destaque%20global%20em%20biocombust%C3%ADveis. Acesso em: 04 mai. 2025.
[8] Shine I. The Global Biofuel Alliance launched at the G20. What is it? World Economic Forum. Disponível através do link: https://www.weforum.org/stories/2023/10/global-biofuel-alliance/. Acesso em: 04 mai. 2025.
[9] Silva NS et al. O biodiesel no Brasil: uma análise da produção, consumo e potencialidades. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 3, n. 6, p. 165-189, 2018. Disponível através do link: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-de-producao/biodiesel-no-brasil. Acesso em: 04 mai. 2025.