Sono, memória e aprendizagem: de que modo se relacionam?
Ana Luisa de Moura e Silva¹, Jéssica Thaianny Ferreira Souza², Laís Leandra Rodrigues de Moura², Letícia Gabriela Rocha Cunha², Milene Kamela da Silva Alves²
¹Graduandos do curso de Enfermagem (UFSJ-CCO)
²Graduando do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
v.2, n.10, 2024
Outubro de 2024
O sono é um fenômeno essencial para a manutenção do organismo, o que torna plausível o fato de um adulto passar cerca de um terço de sua vida dormindo [1]. São muitas as funções biológicas relacionadas a esse comportamento, como a metabolização de toxinas, a regulação hormonal e a consolidação de memórias [2]. Sono insuficiente é associado a vários distúrbios, desde depressão e Alzheimer até problemas cardiovasculares e diabetes, além, certamente, da deficiência cognitiva [3].
A cognição é um processo mental que proporciona aos seres humanos habilidades como pensar e aprender. A memória é um processo cognitivo através do qual o cérebro é capaz de adquirir e armazenar informações. Esse fenômeno permite ao homem a realização de tarefas diárias básicas, mas tem fundamental importância também no desenvolvimento da criatividade [4,5]. Dentre os fatores que afetam a cognição, o sono é um dos principais, aliado à alimentação saudável e à prática de atividades físicas [4].
O sono é um comportamento complexo, comum aos animais, mas que varia conforme as espécies. Nos seres humanos, ele é dividido em duas fases principais (Figura 1): fase não REM e fase REM - sendo a sigla o termo em inglês para movimentos rápidos dos olhos (Rapid Eye Movement) [6]. Um ciclo de sono se inicia pela fase não REM e termina na fase REM, após a qual ocorre um micro despertar (mesmo que imperceptível) e um novo ciclo começa. Nos indivíduos adultos normais, tem-se de quatro a cinco ciclos de sono por noite [2].
Figura 1: Estágios do sono e as ondas cerebrais.
Fonte: https://reflexoesdeumpsiquiatra.com/2013/05/31/a-importancia-de-uma-boa-noite-de-sono/
O sono é um comportamento complexo, comum aos animais, mas que varia conforme as espécies. Nos seres humanos, ele é dividido em duas fases principais (Figura 1): fase não REM e fase REM - sendo a sigla o termo em inglês para movimentos rápidos dos olhos (Rapid Eye Movement) [6]. Um ciclo de sono se inicia pela fase não REM e termina na fase REM, após a qual ocorre um micro despertar (mesmo que imperceptível) e um novo ciclo começa. Nos indivíduos adultos normais, tem-se de quatro a cinco ciclos de sono por noite [2].
A fase não REM é subdividida e é relacionada à diminuição de velocidade das oscilações neurais, ou seja, nesse estágio, as ondas cerebrais são mais lentas e maiores. De forma contrária, a fase REM é caracterizada por ondas rápidas e curtas, o que se assemelha ao estado de vigília – momento em que a pessoa está acordada [2,6].
Sabe-se que ambas as fases do sono são essenciais para a aprendizagem e a memória. A fase não REM está mais relacionada à consolidação de memórias declarativas, que são as informações que uma pessoa pode declarar, como um fato ou um conceito. Já a fase REM é relacionada às memórias processuais, relativas às habilidades motoras e emocionais, referentes às experiências emotivas [7,8].
A consolidação da memória é o modo pelo qual as informações recentemente adquiridas são convertidas em memórias de longo prazo. Isso é possível devido a um processo denominado corticalização, em que as informações contidas em regiões temporárias do cérebro, principalmente o hipocampo, são realocadas para uma região permanente: o córtex cerebral [2,8]. A formação da memória, portanto, envolve mudanças biológicas para que os conhecimentos adquiridos possam ser armazenados e utilizados no futuro [8].
Para que isso aconteça, é necessária uma capacidade de alteração nas sinapses (conexões entre os neurônios - Figura 2): a plasticidade sináptica. Essa habilidade faz com que as sinapses possam ser fortalecidas ou enfraquecidas, a depender do estímulo vivenciado antes do sono [9]. O fortalecimento das sinapses promove a consolidação de uma memória considerada relevante, enquanto o enfraquecimento provoca o esquecimento de memórias irrelevantes, para que o cérebro consiga adquirir novas informações importantes [8].
O processamento da memória durante o sono é complexo e envolve mecanismos ainda não completamente elucidados. A pesquisa nesse âmbito é, portanto, fundamental para o esclarecimento das mais variadas questões. Um dos principais pesquisadores brasileiros que atuam nessa área é o neurocientista Sidarta Ribeiro, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seu trabalho é extremamente significativo no que tange, especialmente, ao sono, memória e plasticidade neuronal [10].
Figura 2: Sinapse: conexão entre neurônios.
Fonte:https://www.wired.it/scienza/lab/2018/08/28/nuovo-neurone-cervello-umano/
Referências Bibliográficas
[1] Fabbri M. The Mechanisms of Sleep Function and Regulation for Health and Cognitive Performance. Brain Sciences, v. 13, n. 12, p. 1680, 2023. Disponível através do link: < https://www.mdpi.com/2076-3425/13/12/1680>. Acesso em: 05 out. 2024.
[2] Ribeiro S. Sono, Memória e Aprendizagem (Diálogo Plural #156). Youtube, 9 set. 2015. Disponível através do link: < https://www.youtube.com/watch?v=XRGzUYFui4I>. Acesso em: 05 out. 2024.
[3] Prather AA. Waking Up to the Importance of Sleep: Opportunities for Policy Makers. Policy Insights from the Behavioral and Brain Sciences, v. 10, n. 1, p. 25-32, 2023. Disponível através do link:<https://journals-sagepub-com.ez32.periodicos.capes.gov.br/doi/10.1177/23727322221144651>. Acesso em: 05 out. 2024.
[4] Savarimuthu A, Ponniah RJ. Cognition and Cognitive Reserve. Integrative Psychological and Behavioral Science, p. 1-19, 2024. Disponível através do link: <https://link-springer-com.ez32.periodicos.capes.gov.br/article/10.1007/s12124-024-09821-3>. Acesso em: 05 out. 2024.
[5] Battaglia S et al. Neural Correlates and Molecular Mechanisms of Memory and Learning. International Journal of Molecular Sciences, v. 25, n. 5, p. 2724, 2024. Disponível através do link: <https://www.mdpi.com/1422-0067/25/5/2724>. Acesso em: 05 out. 2024.
[6] Thomas A, Delphine O. What is sleep exactly? Global and local modulations of sleep oscillations all around the clock.
Neuroscience & Biobehavioral Reviews, p. 105465, 2023. Disponível através do link: < https://www-sciencedirect.ez32.periodicos.capes.gov.br/science/article/pii/S0149763423004347?via%3Dihub>. Acesso em: 05 out. 2024.
[7] Akgün AE et al. The role of organizational emotional memory on declarative and procedural memory and firm innovativeness. Journal of Product Innovation Management, v. 29, n. 3, p. 432-451, 2012. Disponível através do link: <https://onlinelibrary-wiley.ez32.periodicos.capes.gov.br/doi/10.1111/j.1540-5885.2012.00916.x>. Acesso em: 05 out. 2024.
[8] Almeida-Filho DG et al. Memory corticalization triggered by REM sleep: mechanisms of cellular and systems consolidation. Cellular and molecular life sciences, v. 75, p. 3715-3740, 2018. Disponível através do link: <https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/25632/1/SidartaRibeiro_ICe_2018_Article_MemoryCorticalizationTriggered.pdf>. Acesso em: 05 out. 2024.
[9] Ribeiro S. Sleep and plasticity. Pflügers Archiv-European Journal of Physiology, v. 463, p. 111-120, 2012. Disponível através do link: < https://link.springer.com/article/10.1007/s00424-011-1031-5?utm_source=getftr&utm_medium=getftr&utm_campaign=getftr_pilot>. Acesso em: 05 out. 2024.
[10] Sidarta R. Currículo Lattes. Disponível através do link: <http://lattes.cnpq.br/0649912135067700>. Acesso em: 05 out. 2024.