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Parasitoses Endêmicas no Brasil: Impactos, Avanços e Desafios na Saúde Pública

Ana Luiza Braga Souza, Esther Leides Silva Oliveira, João Vítor Nunes Alves, Larissa Alves de Souza, Rayandra Kethlyn Souza Teixeira, Thainara Marçal Pelegrino, Vinícius Souza Costa

Graduandos da UFSJ-CCO

v.2, n.6, 2024
Junho de 2024

As doenças endêmicas parasitárias, conjunto de doenças causadas por parasitos típicos de uma região, representam um desafio para a saúde pública em todo o mundo, incluindo o Brasil. Caracterizadas pela ocorrência constante em determinados locais, essas enfermidades são causadas por agentes parasitários, organismos que vivem às custas de outros organismos chamados de hospedeiros, geralmente causando danos a eles. Os parasitos obtem nutrientes, abrigo ou outros recursos vitais do hospedeiro, muitas vezes prejudicando sua saúde ou até mesmo causando doenças.

Dentre as principais doenças endêmicas parasitárias que afetam humanos no Brasil, destacam-se malária (Figura 1), doença de Chagas, leishmaniose e esquistossomose [1]. O estudo dessas doenças é de grande importância para a saúde pública devido aos prejuízos que estas enfermidades causam para a sociedade. As doenças parasitárias afetam principalmente aqueles de baixo poder econômico, uma vez que o acesso a serviços como saúde e saneamento básico é mais difícil para esta parcela da população, prejudicando a qualidade de vida dessas pessoas. Além disso, o tratamento inadequado ou tardio pode levar a complicações graves e crônicas, ameaçando seriamente a vida dos indivíduos infectados [2].

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Figura 1: Plasmodium, o parasita causador da Malária

Fonte: https://doi.org/10.1371/image.pbio.v03.i06.g001

Dessa forma, no Brasil, essas doenças parasitárias endêmicas representam desafios antigos para a saúde pública. Como exemplo,  a malária é a condição mais prevalente (que mais prevalece, que predomina) na região Amazônica [3,4]. A leishmaniose é endêmica em praticamente todas as regiões do território [3]. A hanseníase, embora o número de infectados tenha reduzido com o passar dos anos, ainda é típica de algumas áreas do país. A doença de Chagas é mais prevalente em áreas rurais e semiáridas como Norte, Nordeste e Centro-Oeste [3,5], além da esquistossomose, que é encontrada em regiões com baixo saneamento e com água doce contaminada, com destaque para Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Alagoas [3]. Os fatores de risco para essas doenças incluem condições precárias de habitação, falta de saneamento básico e água potável, exposição a vetores (animais que carregam o parasito e transmitem a doença causadas por ele) e falta de acesso à saúde. O controle eficaz dessas doenças requer abordagens de saúde pública integradas para reduzir a sua perpetuação no país.

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Figura 2: Maria José von Paumgartten Deane.

Fonte: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/jvr8Dq79KmWg98smYVRt9wb/?format=pdf

Nota-se que apesar de as doenças parasitárias terem seus agentes, diagnósticos, tratamentos e prevenções bem estabelecidos na literatura, avanços científicos continuam a ocorrer, especialmente em terapias e formas de prevenção. Um exemplo é o desenvolvimento de vacinas contra o Schistosoma mansoni, responsável por causar esquistossomose. Atualmente, seis principais vacinas estão em fase de teste, sendo uma delas a vacina baseada na proteína Sm14, encontrada na camada externa do parasito. Produzida pela Dra. Miriam Tendler e equipe no Rio de Janeiro, com tecnologia brasileira da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), essa vacina, ao entrar em contato com o sistema imunológico, apresenta a ele fragmentos do Schistosoma (a proteína Sm14) gerando uma memória a qual facilita o reconhecimento e o combate ao parasito num contato posterior, que poderia gerar a doença. A vacina baseada em Sm14 ainda está em fase de testes, mas é uma esperança ao enfrentamento dos prejuízos causados pela esquistossomose à população brasileira [6].

Outro avanço se dá na perspectiva da existência da Vigilância Epidemiológica, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que é crucial para controlar doenças endêmicas parasitárias. Esta consiste em serviços que visam contabilizar e reduzir as mortes por meio da detecção de enfermidades. Antes impensável, o país hoje é capaz de diagnosticar essas doenças, registrar e a partir desses dados elaborar políticas públicas direcionadas e cada vez mais eficientes, atendendo às demandas de cada região [7]. Precursora desse serviço foi Maria José von Paumgartten Deane (Figura 2), médica protozoologista brasileira que realizou descobertas sobre diversas doenças endêmicas durante sua vida. Em 1963, participou de um grupo de pesquisadores que fundou posteriormente o Instituto Evandro Chagas, inicialmente órgão da Secretaria de Vigilância, que visava estudar leishmaniose, malária, febre amarela e demais endemias. O Instituto foi um dos precursores na busca pela elucidação de epidemias [8].

No entanto, apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem enfrentados no contexto das doenças endêmicas parasitárias no Brasil que requerem uma abordagem que vá além das fronteiras tradicionais. Nessa perspectiva, a biologia fornece informações sobre os parasitas, incluindo sua biologia molecular e interações com hospedeiros. A medicina é crucial na gestão clínica e na identificação de fatores de risco.  Médicos em áreas endêmicas devem conhecer as peculiaridades dessas doenças. Nesse contexto, o trabalho de pesquisadoras como Maria José Deane, conforme supracitado, tem sido crucial na implementação de estratégias de controle dessas doenças. A colaboração entre essas disciplinas, incluindo o trabalho pioneiro de Deane, pode levar a soluções mais abrangentes e sustentáveis para as doenças parasitárias no Brasil. Ao integrar perspectivas diversas, os pesquisadores e profissionais de saúde podem desenvolver melhores estratégias, essenciais para enfrentar os constantes desafios [9].

Referências Bibliográficas

[1] Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.

[2] Mendes EV. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.

[3] Brasil. Guia de Vigilância em Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 2022. Disponível através do link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_5ed_rev_atual.pdf. Acesso em: 05 jun 2024.

[4] Varo R, Chaccour C, Bassat Q. Update on malaria. Med Clin (Barc), v. 155, n. 9, p. 395-402, 2020.

[5] Corassa RB, Aceijas C, Alves PAB, Garelick H. Evolution of Chagas' disease in Brazil. Epidemiological perspective and challenges for the future: a critical review. Perspect Public Health, v. 137, n. 5, p. 289-295, 2017.

[6] Bachur TPR, Nepomuceno DB. Doenças infecciosas e parasitárias no contexto brasileiro. Campina Grande: Editora Amplla; 2021.

[7] Barata, RB. Vigilância epidemiológica: breve histórico e a experiência dos Estados Unidos e do estado de São Paulo. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 31, p. e2021115, 2022.

[8] Povoa MM, et al. O Instituto Evandro Chagas e seu passado completo. Rev Pan-Amaz Saúde, v. 9-10, 2016. Disponível através do link: http://dx.doi.org/10.5123/s2176-62232016000500001.. Acessado em: 05 jun 2024.

[9] Hinrichsen SL. DIP: Doenças infecciosas e parasitárias. 2009. xxxiii-1098.

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