Contracepção: importância, opções e desafios
Giovanna Caixeta de Lima¹, Júlia Maffra Neder¹, Júlia Maria Batista Lima², Wagner Cândido de Carvalho Junior², Yasmin Salete Alves Rodrigues²
¹Graduandos do curso de Medicina (UFSJ - CCO)
²Graduandas do curso de Enfermagem (UFSJ - CCO)
v.2, n.6, 2024
Junho de 2024
Figura 1: Métodos contraceptivos.
Fonte:https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2019/11/metodos-contraceptivos.jpg
Os métodos contraceptivos (Figura 1) são técnicas ou dispositivos empregados para prevenir a gravidez [1]. A utilização adequada desses métodos desempenha um papel crucial na prevenção de gestações não planejadas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), proporcionando às mulheres e aos casais o poder de escolher se e quando querem ter filhos, além de proteção contra as doenças mencionadas [2].
Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado diminuição na taxa de natalidade. Antes, por volta da década de 1940, as mulheres tinham em média mais de seis filhos, valor que, atualmente, é inferior a dois [3]. Apesar dessa diminuição na quantidade de filhos e da existência de diversos métodos contraceptivos, mais da metade das gravidezes que acontecem no Brasil não são planejadas, segundo a pesquisa "Nascer no Brasil" [4]. Além disso, as mulheres que planejam suas gravidezes geralmente são brancas, têm maior índice de escolaridade, possuem mais de 35 anos e estão em um relacionamento estável [5]. Dessa forma, o planejamento familiar torna-se um aspecto de suma importância, uma vez que a gravidez não planejada pode causar problemas para a sociedade, afetando a qualidade de vida das mulheres, causando problemas nas famílias e impactando a vida das crianças.
Atualmente, uma variedade de métodos contraceptivos está disponível, apresentando diversos mecanismos de ação e sendo classificados como naturais ou artificiais. Entre os métodos naturais, os mais comuns são o coito interrompido (consiste na ejaculação fora do órgão sexual feminino) e a tabelinha (análise dos dias do ciclo menstrual, evitando relações nas datas mais férteis). Estes, no entanto, são menos indicados para evitar uma gravidez por sua baixa eficácia, que nada mais é que a capacidade de um método contraceptivo proteger contra a gravidez não desejada e não programada [6].
Já em relação aos métodos artificiais, têm-se os mecânicos (como os preservativos femininos e masculinos, o dispositivo intrauterino - DIU de cobre ou de prata- e o diafragma), hormonais (pílula, adesivo, anel vaginal, injetáveis, DIU hormonal, implante), químicos (espermicidas) e cirúrgicos (vasectomia e laqueadura de trompas). Dentre todos métodos citados, os cirúrgicos são os únicos considerados permanentes e agem impedindo que possa haver a liberação ou encontro dos gametas, que são as células reprodutivas responsáveis pela gravidez [6].
Dentre as opções acima, o implante hormonal se destaca como o método reversível mais eficaz, com uma taxa de falha de apenas 0,05%. Apesar disso, a pílula contraceptiva é o método mais utilizado no Brasil [7], podendo ser formulada com dois tipos de hormônios que simulam os hormônios produzidos pelo corpo feminino: progestagênicos isolados ou em combinação com estrogênicos. Além disso, é importante ressaltar que o único método que protege contra infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) é o preservativo. Portanto, é interessante combinar o uso do preservativo com outros métodos contraceptivos [6].
Desse modo, ao abordar a temática dos métodos contraceptivos, torna-se evidente a presença de barreiras e desafios associados ao tema. A carência de educação sexual e informação emerge como um fator limitante, visto que durante os anos formativos da infância a criança começa a adquirir autonomia para a tomada de decisões. Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2017 define que abordar a sexualidade é fundamental nas escolas. Contudo, na prática, as medidas de educação sexual para essa faixa etária são insuficientes. Portanto, torna-se importante fortalecer a educação sexual, de modo que os indivíduos, além de se autoconhecerem, também possam compreender os métodos contraceptivos, facilitando, assim, o desenvolvimento de uma sexualidade responsável [8].
Ademais, a distribuição dos métodos contraceptivos pelo SUS é um fator limitador do acesso, uma vez que nem todas as opções estão universalmente disponíveis. Entre as alternativas oferecidas, estão os métodos hormonais (como os de uso oral e injetáveis), os de barreira (incluindo o diafragma e os preservativos), o DIU (apenas o de cobre) e ainda procedimentos como a laqueadura e a vasectomia. Apesar da diversidade de opções oferecidas de forma gratuita pelo SUS, a eficiência desse sistema de saúde em atender as demandas da população varia em diferentes regiões do país, especialmente em áreas remotas e desfavorecidas. Além disso, é importante ressaltar que alguns métodos são destinados a públicos específicos, não abrangendo toda a população [9]. Considerando que nem todos os métodos são acessíveis gratuitamente, é necessário destacar os altos custos nas farmácias, o que os torna inacessíveis para grande parte da população, criando barreiras ao acesso, especialmente para jovens e pessoas com recursos financeiros limitados.
Além disso, a desigualdade da adesão dos gêneros em relação à utilização de contraceptivos surge como um tema importante na área da saúde, sobretudo porque a grande maioria dos métodos contraceptivos é desenvolvida para o público feminino, sendo os hormonais exclusivamente direcionados a esse grupo. Apesar disso, é importante abordar a contracepção com ambos os sexos, promovendo a cooperação entre eles. Isso porque a compreensão do funcionamento dos métodos por ambas as partes pode auxiliar na escolha mais adequada para cada caso, o que pode contribuir para uma maior adesão ao contraceptivo por meio da promoção da responsabilidade compartilhada. Por fim, o enfoque da temática com os homens pode colaborar, também, para a diminuição de estigmas, auxiliando na redução da desigualdade entre os sexos no que tange ao conhecimento sobre os métodos contraceptivos [10].
Em última análise, a compreensão da importância dos anticoncepcionais e a busca por informações confiáveis para a escolha do método representam pilares essenciais para a promoção da saúde reprodutiva. Ao capacitarmos as pessoas com conhecimento e conscientização, não apenas estamos fortalecendo sua capacidade de tomar decisões assertivas (com mais exatidão), mas também estamos contribuindo para a prevenção de gravidezes não planejadas, redução de doenças sexualmente transmissíveis e promoção de relacionamentos saudáveis. Sendo assim, é necessário garantir o acesso equitativo (de forma justa) aos métodos contraceptivos, investir em educação sexual abrangente, melhorar a distribuição de contraceptivos pelo SUS e implementar políticas que tornem esses métodos acessíveis a todos [11].
Referências Bibliográficas
[1] - World Health Organization. 2019. Family planning/Contraception Methods. Disponível através do link: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/family-planning-contraception. Acesso em: 05 jun 2024.
[2] - World Health Organization. 2021. Contraception. Disponível através do link: https://www.who.int/health-topics/contraception. Acesso em: 05 jun 2024.
[3] - Fernandes FCdeM, Gomes SE, Gabrielly BI. A idade da primeira gestação no Brasil: dados da pesquisa nacional de saúde. Jornal de Crescimento e Desenvolvimento Humano, v. 2019, p. 29-34, 2019.
[4] - Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV, Bastos MH, Leal MC. Assistência pré-natal no Brasil. Caderno de Saúde Pública, v. 30, n. 1, p. S85-S100, 2014.
[5] - UNFPA. Fecundidade e dinâmica da população brasileira. Brasília: UNFPA; 2018. Disponível através do link: https://brazil.unfpa.org/pt-br/publications/fecundidade-e-dinamica-da-populacao-brasileira-folder. Acesso em: 05 jun 2024.
[6] - Berek JS, Rinehart RD, De Araújo CLC, De Souza RC. Berek & Novak tratado de ginecologia. Rio De Janeiro Guanabara Koogan; 2008.
[7] - Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
[8] - Lopes CL et al. Educação sexual nas escolas: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, n.1, p. 259-267, 2019.
[9] - CONITEC. Relatório para Sociedade: informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS. nº 326. abril. 2022. Disponível através do link: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2022/sociedade/20220714_resoc_326_contraceptivos_injetaveis.pdf . Acesso em: 05 jun 2024.
[10] - Pereira GMC, Azize RL. "O problema é a enorme produção de espermatozoides”: concepções de corpo no campo da contracepção masculina. Saúde e Sociedade, v. 28, n. 2, p. 147–159, 2019.
[11] - Ministério da Saúde. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. - Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 52 p. : il. color. - (Série F. Comunicação e Educação em Saúde) (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; caderno n. 21.