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O SUS e as Práticas Integrativas: Um Caminho para a Saúde Humanizada

André Vitor Caetano, Daniella Georgopoulos Calló, Neide Aparecida da Silva

Pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (UFSJ-CCO)

v.3, n.1, 2025

Janeiro de 2025

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde humana como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” [1]. O conceito de bem-estar engloba, ainda, outras dimensões como ocupacional, espiritual e emocional. Sendo assim, a saúde pode ser alcançada a partir de uma abordagem holística, abrangente, isto é, a partir de um olhar integral sobre o ser humano [2]. Partindo dessa ideia, a OMS estabeleceu o Programa de Medicina Tradicional no final da década de 1970, que se diferenciava pelo acolhimento do paciente, proporcionando uma melhor relação com o terapeuta, com o meio ambiente e a sociedade, além de promover autonomia e o autocuidado. As primeiras ações para implantação deste tipo de programa, no Brasil, surgiram com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988 [3].

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Figura 1: Símbolo da Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS.

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_comple mntares_2ed.pdf

De acordo com a Constituição Brasileira, o governo tem o dever de garantir, através de políticas públicas, o acesso gratuito a serviços que objetivam prevenção, promoção e recuperação da saúde [4]. Este acesso deve ser de forma igualitária e sem qualquer tipo de discriminação, ou seja, universal, afinal todo cidadão tem direito à saúde, independente de sua etnia, sexo ou condição social. Dentro deste contexto, é natural que as pessoas tenham necessidades diferentes e, portanto, os tratamentos não podem ser iguais para todos. Com a proposta de diminuir a desigualdade social e promover equidade no cuidado, um maior nível de atenção é proporcionado àquelas pessoas mais vulneráveis. Vale ressaltar que cada indivíduo deve ser tratado como um todo a partir da oferta de um atendimento humanizado e assistência contínua, desde a informação sobre os serviços de saúde e prevenção de doenças até a reabilitação e os cuidados paliativos (suporte para alívio de sintomas físicos e emocionais em casos de doenças graves e condições ameaçadoras de vida). Dessa forma, a universalidade, equidade e integralidade representam os princípios que sustentam o SUS, garantindo uma melhor qualidade de vida para a população [5-6].

O SUS é considerado um dos mais complexos sistemas de saúde pública do mundo [5] e, em 2006, consolidou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) (Figura 1), as quais são recursos terapêuticos baseados nas medicinas tradicionais, que podem ser empregados em todos os níveis da rede de atenção à saúde, principalmente na atenção primária [3;7]. Quando as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são utilizadas juntamente aos tratamentos convencionais, podem ser classificadas como complementares; quando substituem estes tratamentos, são consideradas alternativas e quando apresentam comprovação científica sobre segurança e eficácia, são integradas ao tratamento [8]. 

De acordo com o relato do coordenador da PNPIC no Ministério da Saúde, Paulo Rocha, tais práticas podem melhorar a resposta terapêutica do paciente quando associadas aos tratamentos convencionais, disponibilizando meios não farmacológicos (sem uso de medicamentos) aos usuários e unindo os saberes tradicionais à saúde baseada em evidências, além de despertar conscientização sobre o modelo de cuidado [9]. No total, são oferecidas 29 práticas pelo sistema de saúde, das quais podemos destacar algumas apresentadas a seguir [10]. 

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC), considerada um dos mais antigos sistemas de tratamento/cura do mundo com mais de cinco mil anos de história, inclui plantas medicinais, acupuntura, massagem, dietoterapia e exercícios físicos. As teorias que fundamentam a MTC baseiam-se no conceito de que estamos todos interligados pela mesma energia vital (“Qi”) e que o universo está em constante movimento e transformação. Seguindo esta linha de pensamento, o objetivo da MTC é equilibrar a energia vital do ser para viver em harmonia com o “Qi” do ambiente ao seu redor [11-12]. Um dos tratamentos mais utilizados é a acupuntura, que consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo, estimulando o fluxo de energia. Os efeitos benéficos desta técnica foram comprovados em estudos clínicos para o alívio de diversas condições, como enxaqueca, dor crônica e neuropática, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, rinite, osteoartrite e depressão [12]. 

O Reiki é uma terapia energética que utiliza a imposição das mãos sobre o paciente para canalizar a energia vital universal, harmonizando corpo, mente e espírito [13]. O profundo estado de relaxamento induzido pelo Reiki promove uma sensação de bem-estar psicoespiritual, sendo efetivo no alívio de sintomas de diferentes tipos de dor, ansiedade, depressão e estresse, além de regular pressão arterial [14-16]. Esta técnica de origem japonesa tem sido amplamente utilizada em centros de reabilitação, hospitais, salas de cirurgia, clínicas pediátricas, entre outros estabelecimentos de saúde [16].

 

A homeopatia parte do princípio de que semelhante cura semelhante, ou seja, doenças podem ser tratadas por substâncias que produzem os mesmos sinais e sintomas (das doenças) em indivíduos saudáveis [17]. Já, na medicina alopática (convencional), os medicamentos apresentam ação contrária aos sintomas vivenciados pelo paciente (por exemplo, uso de antitérmico em caso de febre) [18]. Vale destacar que o preparo de medicamentos homeopáticos envolve diluições seriadas e agitação intensa, vigorosa, transferindo a informação da substância original para a solução final [17]. A partir de uma visão integrada da saúde, a homeopatia recoloca o paciente no centro da atenção, permitindo melhor compreensão sobre o processo de adoecimento [3] e fortalecendo a relação entre médico e paciente. Também, pode contribuir no manejo de doenças crônicas, diminuindo a necessidade de medicamentos alopáticos (convencionais) e, consequentemente, a ocorrência de efeitos adversos causados por eles [19]. 

 

A agência do governo divulgou que 83% dos municípios oferecem as PICS no SUS e, em 2023, mais de sete milhões de brasileiros foram beneficiados por este tipo de abordagem terapêutica [9]. A gestão de cada estado e município define quais das 29 práticas integrativas serão ofertadas em cada região, o que significa que diferentes cidades podem apresentar diferentes opções. De modo geral, a atenção primária à saúde acaba sendo a porta de entrada para o SUS e, através do atendimento pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), é possível ter acesso a essas terapias [20-21]. Também, é possível aprender mais sobre elas através de cursos gratuitos online destinados à população em geral, profissionais de saúde e gestores. Estes cursos estão disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AvaSUS) [9;22].

Referências Bibliográficas

[1] World Health Organization (WHO). Constitution of the World Health Organization. New York. 1946. 

[2] Miller JW. Wellness: The History and Development of a Concept. Spektrum Freizeit. 2005; 01:84–106. 

[3] Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. 2ª Edição. Brasília. 2015. Disponível através do link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_compl ementares_2ed.pdf. Acesso em: 05 jan. 2025.

[4] Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. 1988. Disponível através do link: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 jan. 2025.

[5] Brasil. Ministério da Saúde. Lei Nº 8.080: 30 anos de criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível através do link: https://bvsms.saude.gov.br/lei-n-8080-30-anos-de-criacao-do-sistema-unico-de-saude-sus/. Acesso em: 05 jan. 2025.

[6] Freire A. Ministério da Saúde lança Política Inédita no SUS para Cuidados Paliativos. Ministério da Saúde. 2024. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/maio/ministerio-da-saude-lanca-politica-inedita-no-sus-para-cuidadospaliativos. Acesso em: 05 jan. 2025.

[7] Brasil. Ministério da Saúde. Práticas Alternativas e Complementares em Saúde. Ministério da Saúde. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pics. Acesso em: 05 jan 2025.

[8] Ferreira SK, et al. Centros de Atenção Psicossocial e formação profissional para oferta das Práticas Integrativas e Complementares: estudo com profissionais ofertantes dos serviços. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. 2024;28.

[9] Brasil. Ministério da Saúde. Mais de 80% dos Municípios Oferecem Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no SUS. Agência do Governo. 2024. Disponível através do link: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202405/mais-de-80-dos-municipios-oferecem-praticas-integrativas-e-complementares-em-saude-no-sus. Acesso em: 05 jan. 2025.

[10] Brasil. Ministério da Saúde. Recursos Terapêuticos PICS. Ministério da Saúde. 2022. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pics/recursos-teraupeticos. Acesso em: 05 jan. 2025.

[11] Tang JL, et al. Traditional Chinese Medicine. The Lancet. 2008;372(9654):1938-1940. [12] Matos LC, et al. Understanding Traditional Chinese Medicine Therapeutics: An Overview of the Basics and Clinical Applications. Healthcare - MDPI. 2021; 9(3):257.

[13] Guo X, et al. Therapeutic Effects of Reiki on Interventions for Anxiety: A Meta-Analysis. BMC Palliative Care. 2024; 23(1):147.

[14] McManus DE. Reiki is Better than Placebo and Has Broad Potential as a Complementary Health Therapy. Journal of Evidence-Based Complementary & Alternative Medicine. 2017; 22(4):1051-1057.

[15] Zadro S, Stapleton P. Does Reiki Benefit Mental Health Symptoms Above Placebo? Frontiers in Psychology. 2022; 13:897312.

[16] Dogan MD. The Effect of Reiki on Pain: A Meta-Analysis. Complementary Therapies in Clinical Practice. 2018; 31:384-387.

[17] Shang A, et al. Are the Clinical Effects of Homoeopathy Placebo Effects? Comparative Study of Placebo-Controlled Trials of Homoeopathy and Allopathy. The Lancet. 2005; 366(9487):726-732.

[18] Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O Que Devemos Saber Sobre Medicamentos. Brasília. 2010. Disponível através do link: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/publicacoes-sobre-medicamentos/o-que-devemos-saber-sobre-medicamentos.pdf. Acesso em: 05 jan. 2025.

[19] Teixeira MZ. Scientific Evidence for Homeopathy. Clinics. 2023;78:100255. [20] Martins F. Técnicas da Medicina Tradicional, como Homeopatia, Meditação e Yoga Podem ser Encontradas no SUS. Ministério da Saúde. 2022. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/tecnicas-da-medicina-tradicional-como-homeopatia-meditacao-e-yoga-podem-ser-encontradas-no-sus. Acesso em: 05 jan. 2025.

[21] Brasil. Ministério da Saúde. Saiba Mais Sobre a APS. Ministério da Saúde (s.d.). Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/saiba-mais-sobre-a-aps. Acesso em: 05 jan. 2025.

[22] Brasil. Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS) - Conhecimento Aberto em Saúde. Módulos Educacionais PICS. Disponível através do link: https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/cursos.php?search=pics. Acesso em: 05 jan. 2025.

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