
Entrevista:
Naony Sousa Costa Martins

NAONY SOUSA COSTA MARTINS
Doutora e Mestre em Direito pela Fundação Universidade de Itaúna (UIT). Especialista em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Professora da Universidade Professor Edson Antônio Velano (UNIFENAS- Divinópolis/MG) e da Faculdade Anhanguera Divinópolis. Professora de cursos de pós-graduação lato sensu. Autora de livros e artigos na área do Direito. Advogada.
Por Christopher Santos Silva¹, Fernanda Maria Policarpo Tonelli²
¹Graduando do curso de Bioquímica da UFFS-CCO
²Editora chefe do "À Luz da Ciência"
v.3, n.4, 2025
Abril de 2025
Quando percebeu que possuía interesse pelas ciências jurídicas?
O meu interesse pelas ciências jurídicas surgiu com o início da graduação. A carreira jurídica, de início, não era uma opção. No entanto, ao começar a graduação logo me identifiquei com o estudo na área das ciências sociais aplicadas e segui meus estudos nesta seara do conhecimento.
Teve dúvidas ao realizar a escolha do curso de graduação?
Sim! A dúvida sobre o início da jornada acadêmica e qual carreira seguir é muito comum para aqueles que estão terminando o ensino médio e, comigo, não foi diferente. Inicialmente queria seguir uma carreira na área de exatas, especificamente Engenharia ou Arquitetura. No entanto, o Direito acabou me escolhendo. Fui aluna bolsista em uma instituição de ensino privada e desde o primeiro semestre me encantei pelo curso. Assim, o sonho de uma carreira na área de exatas se transformou em uma carreira nas ciências sociais aplicadas. A paixão pelo estudo das ciências jurídicas me levou, com a conclusão da graduação, a cursar uma especialização, mestrado e doutorado e em breve ao pós-doutorado.
O que considera ter sido decisivo em sua escolha por seguir a carreira científica?
Na graduação tive uma primeira experiência na área da pesquisa e da monitoria na disciplina de Direito Constitucional. Especialmente a monitoria, me oportunizou a realização de pesquisa e, também, a possibilidade de ministrar palestras e aulas sobre o tema. Esta primeira experiência, foi decisiva para escolha da carreira científica. Somado a isso, a especialização me oportunizou a publicação do meu primeiro artigo científico, bem como a participação em congressos jurídicos com publicação de resumos expandidos. Após a especialização, de imediato iniciei o mestrado, seguindo com pesquisas na área do direito processual e, após alguns anos, o doutorado.
Por qual razão optou por dedicar-se à área de estudos na qual realiza suas pesquisas?
Atualmente minha pesquisa é preponderantemente voltada para a área do direito processual, com ênfase no direito processual civil e no processo coletivo. Conheci a área do processo coletivo ainda na graduação; inclusive desenvolvi a pesquisa do meu trabalho de conclusão de curso nesta temática. Tratava-se de um estudo que seguia teorias até então minoritárias, no entanto, que eram mais alinhadas aos princípios de um estado democrático. Conhecer esta nova perspectiva na área do direito processual me instigou a continuar as pesquisas dentro desta temática e até hoje é a área do direito que mais me fascina sob a ótica da pesquisa cientifica.
Qual a principal motivação para seguir trabalhando com ciência no Brasil?
A principal motivação é a expectativa de mudanças e inovações na área em que realizo minhas principais pesquisas: direito processual. A efetiva implementação de um modelo de processo que possua um procedimento compatível com o modelo constitucional é o que me faz pesquisar sobre a temática e visualizar que os atuais obstáculos podem ser rompidos a partir da pesquisa.
Qual a principal dificuldade que enfrenta trabalhando com ciência no Brasil?
A principal dificuldade enfrentada por aqueles que trabalham com a ciência no Brasil é a falta de apoio, seja institucional, financeiro e até mesmo de reconhecimento. Minha formação foi realizada em instituições privadas que, em sua maioria, não contam com o apoio de programas de bolsa e incentivo à pesquisa. As faculdades, assim como as universidades, deveriam promover um maior incentivo à pesquisa, especialmente para aqueles alunos que já na graduação demonstram interesse em seguir esta carreira.
O que gostaria de dizer para quem deseja seguir a carreira científica?
A carreira científica nem sempre será um caminho que lhe trará um retorno financeiro ou reconhecimento. No entanto, é a única que oportuniza a mudança e a ressignificação de institutos e teorias implementas, bem como o avanço da ciência e do conhecimento crítico. Esta expectativa de mudança e de impactos futuros é o que deve motivar o pesquisador a seguir com seus estudos, mesmo diante de um cenário de ausência de apoio e reconhecimento.