top of page
ENTREVISTADA.png

Entrevista:
Isabella Cristina Tolêdo Alves Costa

ENTREVISTADA.png

ISABELLA CRISTINA TOLÊDO ALVES COSTA

Isabella é doutora em Bioquímica Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com ênfase em proteômica e bioquímica de proteínas. É também bacharela em Bioquímica pela mesma instituição.

Bruna Aparecida Vieira Mathias, Maria Eduarda de Oliveira Lima, Leonardo Maciel Santos Silva, Joseane Oliveira Pereira, Mariana de Fátima Rabelo Silva

Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)

v.3, n.1, 2025
Janeiro de 2025

Quando percebeu que possuía interesse por ciência? 

“Desde pequena para falar a verdade, eu tinha certeza que queria ser cientista mas não tinha certeza sobre em qual área eu queria seguir. Sempre me interessei por ciência e quando escolhi a bioquímica foi meio por acaso. Quando entrei na graduação em 2013 não era um curso tão conhecido no Brasil; o curso de farmácia/bioquímica era bem conhecido, mas um de bioquímica apenas ainda não tinha ouvido falar sobre. Fiquei muito interessada e me matriculei; e realmente é um curso totalmente voltado para ciência.

 

Teve dúvidas para escolher o curso?

Tive. Sinto que na época que entrei não tinha muita informação de como era o curso. Minha entrada se deu quando o Enem tinha acabado de mudar de formato. Era necessário olhar os cursos pelo guia do estudante, não havia muitos detalhes. Tive dúvidas e não sabia como era a carreira no geral, mas observando a grade curricular do curso fiquei bastante interessada por causa das matérias que seriam cursadas.

O que considera ter sido decisivo em sua escolha por seguir a carreira científica?

Acredito que gostar de trabalhar com laboratório, pesquisa em bancada. Gosto muito de trabalhar em bancada; isso foi fundamental para escolher continuar na área acadêmica. Durante a graduação, desde o segundo período já busquei estágios. Fiz vários estágios diferentes, mas o último que fiz foi o que mais gostei. Nele trabalhei com imunovirologia. Foi ali que tive certeza que gostava mesmo de laboratório de pesquisa, pois me encontrei na área. O primeiro estágio que fiz foi na área de cosméticos naturais, depois estagiei na área de enzimas e o por último na área de virologia: todos eles durante a graduação.

Por qual razão optou por dedicar-se à área de estudo na qual realiza suas pesquisas?

Principalmente por sempre me interessar por vírus. Consegui entrar no laboratório e acompanhar uma aluna de mestrado que me ensinou muito sobre a área. Então acredito que em um estágio em que você consegue colocar a "mão na massa" é interessante. O incentivo dela foi fundamental.

Qual a principal motivação para seguir trabalhando com ciência no Brasil?

Então… ciência é bonito demais! Na verdade, não tem muita motivação financeira, isso é, eu acho um pouco triste, porque a gente fica muito tempo estudando, fica muito especializado em alguns assuntos ... Eu penso que a carreira de cientista no Brasil não é muito valorizada. Como disse, não tem muita motivação financeira, mas a motivação que a gente tem é o resultado de pesquisa. No final você olha e fala assim: nossa encontrei uma coisa muito diferente que ainda não foi visto/estudado! Acho que isso que motiva.

Qual a principal dificuldade que enfrenta trabalhando com ciência no Brasil?

Definitivamente a falta de incentivo. Além das bolsas remunerarem mal, a gente não tem direito trabalhista: não tem adicional de insalubridade, não tem férias ... É como se a pós graduação não fosse enxergada como um trabalho, mas é um trabalho. A gente tem dedicação exclusiva, então é complicado. Hoje em dia o custo de vida não é barato e além da bolsa muita das vezes não ter reajuste por muitos anos, também tem o fato de que as vezes falta dinheiro para pesquisa. Dinheiro para consertar equipamento, por exemplo. Este foi um aspecto vivenciei muito durante meu doutorado. Houveram muitos percalços por falta de liberação de verba por parte do governo. Quando eu ia fazer análise, por exemplo, não havia dinheiro para consertar o equipamento do qual eu precisava; então, foi necessário "fazer um samba” para conseguir finalizar.

O que gostaria de dizer para quem deseja seguir a carreira científica?

Ás vezes você vai ficar muito desmotivado, sabe, por causa da falta de valorização, mas ainda assim, fazer ciência é bom demais! É muito legal você pensar assim: “meu Deus! Eu fiquei tantos anos aqui dentro deste campo e consegui chegar nesse resultado!". É muito engrandecedor você ter um artigo publicado com seu nome, você pensar que você é um grãozinho de areia na praia toda, mas você faz parte de algo. Aquele esforço e aquele resultado vão te dar um fruto em algum momento.

O que na sua pesquisa mais chamou a sua atenção e como surgiu o interesse em trabalhar nessa área? E qual é a sua visão sobre como sua pesquisa contribuiu para o avanço do conhecimento nesse campo?

Na minha pesquisa o que mais me chamou a atenção foi aprender técnicas diferentes que considero revolucionárias, que eu desconhecia. Eu trabalhei muito com espectrometria de massas e parece surreal. Você pega sua amostra, separa as moléculas, e consegue desvendar a estrutura delas; identificá-las. Pesquisa é tudo, né? Você vê desde lá do início, você tem uma pergunta e você busca responder a esta pergunta. Para isso você vai derivando mais perguntas a serem respondidas no percurso.

bottom of page