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Chernobyl: O Impacto de um Desastre Nuclear na Humanidade

Giovana Menezes Fabricio, Iasmin Fernandes Emediato, Luiz Felipe Elver Santana Soares

Pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (UFSJ-CCO)

v.3, n.1, 2025

Janeiro de 2025

No dia 26 de abril de 1986 a Usina V. I. Lenin, a qual operava desde a década de 1970 nas redondezas da cidade de Pripyat (antiga União Soviética) e era responsável pelo fornecimento de energia elétrica (1000 MV) e térmica (3200 MV) para 10% do território ucraniano, foi palco do maior acidente nuclear já registrado. O desastre ocorreu devido a uma sequência de irregularidades operacionais, ocasionadas pela violação dos protocolos de segurança vigente à época, e falhas estruturais, exemplificadas pelos reatores RBMK, utilizados também em outras usinas soviéticas, os quais apresentavam graves erros de projeto [1-3].

No dia do acidente a temperatura no interior do reator 4 aumentou de forma rápida, fazendo as barras de combustível se fundirem com o calor, gerando uma explosão de vapor ocasionando um incêndio (Figura 1 e Figura 2). Com isso foram liberados níveis elevados de radiação pelos arredores da cidade, sendo capaz de matar em minutos devido à sua nocividade [2,3]. 

Durante a explosão, formaram-se cerca de 1.500 toneladas de cório em Chernobyl, que derreteram aço, concreto e outros materiais enquanto se espalhavam pela usina. Uma segunda explosão foi evitada ao bombear-se a água que restava nos porões [2]. O cório acabou se solidificando e se misturando com outros materiais, formando uma estrutura apelidada de “Pé de elefante” (Figura 2), por sua aparência [4]. Esta foi encontrada  e  fotografada no ano de 1996,  por um grupo de exploradores que procuravam medir os níveis de radioatividade vigentes e assim elaborar possíveis soluções para contenção dos impactos nocivos no meio ambiente, na saúde humana e animal e gerar estratégias para impedir futuros desastres nucleares [4].

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Figura 1: Usina nuclear de Chernobyl após o desastre em 1986.

Fonte: https://inis.iaea.org/collection/NCLCollectionStore/_Public/48/065/48065810.pdf

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Figura 2:  Reator 4 após explosão evidenciando o “Pé de elefante”.

Fonte: https://www.slobodenpecat.mk/en/foto-slonovo-stapalo-ova-e-najopasniot-objekt-na-zemjata-mozhe-da-ubie-chovek-za-pet-minuti/

Até os dias de hoje (Figura 3) o impacto da tragédia sobre a fauna e flora da região é tema de extensas investigações científicas. Um exemplo é a “Floresta Vermelha”, uma região de dez quilômetros quadrados localizada próximo à usina que recebeu esse nome devido à coloração marrom-avermelhada das árvores que morreram após exposição aos altos níveis de radiação. Apesar da recuperação parcial da vegetação, a fauna nativa segue sendo afetada por sequelas como: doenças oculares, por exemplo cataratas, condições genéticas (albinismo) e uma diminuição nas taxas de bactérias benéficas, as quais contribuíram para a manutenção do ecossistema ucraniano [5].

 

Contudo mesmo sendo afetados com a radiação existe um aumento de populações de animais selvagens (lobos, alces e linces), comprovado por meio de em um estudo de 2015 realizado pela National Geographic. Tal estudo ressalta as consequências positivas da exclusão de atividade humana ao redor do reator abandonado, o qual está atualmente selado em uma vasta estrutura de aço, concluída no final de 2016, para conter a radiação [5]. 

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Além disso, é de extrema importância relatar os prejuízos gerados à saúde humana, visto que o desastre espalhou uma nuvem de partículas gama, altamente invasivas e nocivas, expondo cerca de 8,4 milhões de pessoas à radiação [5]. Dessa forma, uma pesquisa  do Comitê Científico  sobre os Efeitos  da  Radiação  Atômica  (UNSCEAR) atribuiu ao desastre de Chernobyl cerca de 20 mil casos de câncer de tireoide, registrados entre 1991 e 2015 [6].

 

Em julho de 2021, um grupo de pesquisadores, liderados por Lindsay M. Morton, publicou um estudo na revista Cancer Discovery detalhando os efeitos genéticos (relacionados ao DNA dos descendentes) do desastre nuclear de 1986. Os pesquisadores identificaram que a exposição à radiação do reator foi capaz de causar danos ao DNA causando quebras nas suas duplas fitas. Isso resultou em mutações (alterações no DNA) específicas que contribuíram para o desenvolvimento do câncer de tireoide papilar [7]. 

Um outro estudo de 2021 propôs analisar o DNA de descendentes dos sobreviventes da catástrofe, visando medir os efeitos a longo prazo da radioatividade nas gerações futuras. Através da avaliação de amostras de DNA de crianças que tiveram os pais expostos à radiação diretamente, os resultados mostraram que elas apresentavam um número significativamente maior de mutações genéticas em comparação à média da população. Essas mutações podem não causar problemas de saúde imediatos, mas podem aumentar o risco de doenças genéticas, como o câncer, ao longo da vida. Essas descobertas destacam a importância de continuar monitorando e pesquisando os impactos de desastres nucleares nas populações afetadas. Elas também ressaltam a necessidade de políticas de saúde pública para apoiar as gerações afetadas e suavizar os efeitos a longo prazo desses eventos catastróficos. Em suma, o legado de Chernobyl continua a ressoar através das gerações, exigindo vigilância e pesquisa contínuas [8]. 

A tragédia de Chernobyl, um dos maiores desastres nucleares da história, continua a refletir através das gerações, revelando os profundos impactos da radiação na saúde humana e no meio ambiente. As descobertas científicas recentes, que desvendam as mutações genéticas em descendentes dos sobreviventes e os danos duradouros à fauna e flora locais, reforçam a necessidade urgente de vigilância contínua e pesquisa aprofundada. Este desastre não apenas marca a importância de rigorosos protocolos de segurança nuclear, mas também a necessidade de políticas de saúde pública eficientes para reduzir os efeitos a longo prazo.

 

A ciência desempenha um papel crucial em aprender com os erros do passado, não apenas para compreender as consequências do desastre de Chernobyl, mas também para prevenir futuros desastres nucleares. As lições tiradas deste evento catastrófico são um lembrete sombrio dos riscos relacionados ao manejo inadequado da energia nuclear e da importância de um compromisso renovado com a segurança. Além disso, a história de Chernobyl serve como um alerta global sobre os perigos da negligência e do descuido, destacando a responsabilidade coletiva de governos, cientistas e cidadãos de assegurar que tais tragédias nunca se repitam. Em última análise, o legado de Chernobyl exige não apenas vigilância constante, mas também um esforço global para garantir a segurança e a saúde das gerações futuras. Se continuarmos a monitorar e pesquisar os impactos duradouros, reafirmamos nosso compromisso com um futuro mais seguro e informado, no qual os erros do passado servem de guia para escolhas mais sábias e seguras. 

Referências Bibliográficas

[1] ENCODI. Usina nuclear: o que é, para que serve, peças e tipos. Disponível através do link: https://pt.energia-nuclear.net/usinas-nucleares. Acesso em: 05 jan. 2025.

[2] Brasil Escola. Acidente de Chernobyl: causas, como ocorreu e consequências. Disponível através do link: https://brasilescola.uol.com.br/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm. Acesso em: 05 jan. 2025.

[3] CNN Brasil. O que foi o desastre de Chernobyl, pior acidente nuclear da história. Disponível através do link: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-foi-o-desastre-de-chernoby l-pior-acidente-nuclear-da-historia/. Acesso em: 05 jan. 2025.

[4] Moreira É. O que é o ‘Pé de Elefante’ fotografado em Chernobyl. 2023. Aventuras na História. Disponível através do link: https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/o-que-e-o-pe-de-elefan te-fotografado-em-chernobyl.phtml. Acesso em: 05 jan. 2025.

[5] National Geographic Brasil. Desastre de Chernobyl: o que aconteceu e os impactos a longo prazo. Disponível através do link: https://www.nationalgeographicbrasil.com/2019/06/o-que-aconteceu-desastre-chernobyl-uniao-sovietica-ucrania-energia-nuclear. Acesso em: 05 jan. 2025.

[6] Annex J. Exposures and effects of the Chernobyl accident. Disponível através do link: https://www.unscear.org/docs/reports/annexj.pdf. Acesso em: 05 jan. 2024.

[7] American Association for Cancer Research. Genomics of Chernobyl cancers revealed. Disponível através do link: https://aacrjournals.org/cancerdiscovery/article/11/7/1606/666539/Genomics-of-Chernobyl-Cancers-RevealedGenomics-of. Acesso em: 05 jan. 2025.

[8] BBC News. “Filhos de Chernobyl”: o que diz primeiro estudo de descendentes dos atingidos pelo acidente nuclear. Disponível através do link: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56872316. Acesso em: 05 jan. 2025.

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