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A insônia e suas consequências de tirar o sono

Júlia Alves Camelo Brasil¹, Laísa Aparecida Santos², Lucas de Araújo Gomes¹, Maria Eduarda Ferreira Santiago¹, Sarah Alves Vilela Almeida²

¹Graduandos do curso de Medicina (UFSJ-CCO)

²Graduandas do curso de Enfermagem (UFSJ-CCO)

v.2, n.9, 2024
Setembro de 2024

O sono é uma necessidade humana fundamental. Além de contribuir para a saúde geral do organismo, desempenha papel relevante para o bom funcionamento do sistema nervoso. O adormecimento é capaz de influenciar na capacidade de atenção, percepção de estímulos, raciocínio e aprendizagem (isto é, o processo de aquisição de informações que ocorre a partir da consolidação da memória) [1,2]. O sono é tão imprescindível que a sua falta (privação), mesmo em curto prazo, tem consequências desfavoráveis para a saúde.

O processo de repouso se inicia no período noturno pela percepção de diminuição da luminosidade pelo cérebro, que libera então melatonina (hormônio indutor do sono produzido pela chamada glândula pineal). Ela é liberada inicialmente à noite, com um pico em sua produção algumas horas após o anoitecer [3]. Perto do despertar, pela manhã, aumentam os níveis de um outro hormônio, o cortisol, que atua no despertar, aumentando o estado de alerta e motivação da pessoa. Tanto a melatonina quanto o cortisol são produzidos em períodos definidos, ritmicamente nas 24 horas do dia – o chamado ritmo circadiano ou “relógio biológico”. Por esta razão, o uso abusivo de telas (Figura 1) à noite, principalmente quando se tem insônia, “confunde” o cérebro pela percepção de luminosidade, o que inibe a liberação de melatonina. Consequentemente isto prejudica a indução do sono. Como consequência tem-se a piora da insônia: há uma alteração do ciclo circadiano, o que causa um despertar com a sensação de que “um caminhão passou por cima” de você [4]!

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O sono organiza-se em dois tipos básicos: não-REM (REM é uma sigla para ausência de movimento rápido dos olhos em inglês) e REM, cada um com padrões de atividade cerebral específicos. Durante uma noite de sono eles se intercalam em ciclos, com períodos de sono REM cada vez mais longos e profundos conforme o amanhecer se aproxima.

 

Quando se adormece, inicia-se a fase não-REM do sono, que marca a transição da vigília, isto é, o período de atividade cerebral e física (quando se está acordado), para o adormecimento. O sono não-REM é caracterizado por progressivos relaxamentos musculares, diminuição dos movimentos dos olhos, dos batimentos cardíacos e das respirações, bem como da atividade cerebral, ao longo de três estágios, N1 a N3, com uma profundidade do sono crescente [5].

Já o sono REM acontece cerca de uma hora após o adormecer, e sua denominação reflete o fato de que nesta fase os olhos se movem rapidamente abaixo das pálpebras e, paradoxalmente, a atividade cerebral é muito parecida com a da vigília. Isso repercute na respiração, que fica mais rápida e irregular, assim como nos batimentos cardíacos, que ficam tão acelerados como quando se está acordado. Pela maior atividade cerebral, o sono REM é fundamental para a manutenção das funções cognitivas, como memória, criatividade e a capacidade de aprender, além de proporcionar bem-estar [2,5]. É na fase REM que a maioria dos sonhos acontecem – e por isso, os músculos dos membros ficam paralisados, para evitar que uma pessoa faça o que ela vê em sonho e se movimente, evitando possíveis quedas (e constrangimentos, como quando se sonha em ir de pijama para a escola, por exemplo).

Apesar dos benefícios inegáveis do sono para a saúde humana, é um contrassenso a ideia de que quanto mais horas dormidas, melhor. Na verdade, a quantidade de repouso necessário não é constante ao longo da vida, e nem entre pessoas da mesma idade. Fatores como as jornadas de trabalho, que causam noites de sono insuficientes, e a disponibilidade de estímulos visuais e luminosos, que diminuem a qualidade do sono, podem causar uma sensação de descanso insatisfatório. Bebês podem dormir de 14 a 17 horas por dia, pela grande velocidade de crescimento e desenvolvimento nessa fase; com o envelhecimento, no entanto, cada vez menos horas de sono são necessárias, pela redução natural do metabolismo (conjunto das reações químicas que ocorre nas células para mantê-las vivas e manter, consequentemente, o organismo funcionando). Isto repercute em descansos mais curtos, leves e frequentes nos idosos [6].

 

O que os estudos científicos mais recentes indicam é que não existe um número de horas de sono “ótimo” padrão para todas as pessoas, mas sim uma quantidade que seja suficiente para permitir um despertar pleno de cada um, sem sonolência e sem prejuízo para sustentar níveis normais de performance ao longo do dia; ou seja, para se sentir reparado ao despertar [7].

Períodos de sono curtos ou de má qualidade trazem consequências mais graves do que apenas uma noite mal dormida; estas podem ser notadas no curto ou no longo prazo. A curto prazo, o principal efeito são as repercussões cognitivas, como a diminuição do estado de alerta e da vigilância (capacidade de alternar a atenção entre vários focos de estimulação) e aumento do tempo de reação aos estímulos. Sintomas psíquicos como irritabilidade, sensação de baixa energia, perda de libido (desejo sexual) e da capacidade de julgamento estão associados. A longo prazo a privação do sono pode causar aumento de acidentes de trânsito e erros no ambiente de trabalho; aumento do colesterol no sangue, doenças cardíacas, hipertensão arterial, obesidade e episódios de entupimento de vasos sanguíneos. Caso este entupimento seja em vasos sanguíneos do coração, o chamado infarto agudo do miocárdio pode ser uma consequência. Uma pesquisa com adultos saudáveis entre 40 e 69 anos que dormiam menos de 6h por dia demonstrou que o risco de infarto aumentou 20% em 7 anos de acompanhamento [7].

 

Os roncos, por sua vez, quando associados à apneia obstrutiva (doença em que o indivíduo para de respirar por períodos frequentes e breves durante o sono, causando má-qualidade do descanso e despertares contínuos), aumentam o risco de fibrilação atrial, uma doença que altera o ritmo dos batimentos do coração e é potencialmente fatal [6]. 

Dessa forma, percebe-se que o sono é fundamental para a saúde humana e seus benefícios vão muito além da mera sensação de descanso. Na sociedade atual, em que as longas horas de trabalho e as distrações perturbam o dormir, é conveniente adotar medidas de higiene do sono – conjunto de atitudes que preparam e treinam o organismo para que o sono seja atingido rápida e efetivamente. São exemplos destas medidas evitar o uso de telas à noite e o consumo de alimentos gordurosos próximo à hora de deitar. É ainda importante ter horários bem definidos para dormir e acordar todos os dias [8]. Assim, conhecendo a incrível habilidade do cérebro de dormir e de despertar, e sabendo como otimizá-la, o sono torna-se mais reparador; os dias, mais produtivos, e a saúde, melhor. 

Referências Bibliográficas

[1] Valle L, Valle E, Reimão R. Sono e aprendizagem. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2009. Disponível através do link: https://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/256/sono-e-aprendizagem. Acesso em: 08 set. 2024.

[2] Instituto do Sono. Sono e aprendizagem: qual a relação?. Instituto do Sono, 2021. Disponível através do link: https://institutodosono.com/artigos-noticias/sono-e-aprendizagem-relacao/. Acesso em: 08 set. 2024.

[3] Soster L. Melatonina: o que é e quais os seus benefícios? Hospital Israelita Albert Einstein, 2022. Disponível através do link: https://vidasaudavel.einstein.br/melatonina/. Acesso em: 08 set. 2024.

[4] National Geographic. Conheça 3 fatos impressionantes sobre os efeitos da luz azul na qualidade do sono. National Geographic, 2023. Disponível através do link: https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2023/05/conheca-3-fatos-impressionantes-sobre-os-efeitos-da-luz-azul-na-qualidade-do-sono. Acesso em: 08 set. 2024.

[5] NINDS. Brain Basics: understanding sleep. National Institute of Neurological Disorders and Stroke, 2023. Disponível através do link: https://www.ninds.nih.gov/health-information/public-education/brain-basics/brain-basics-understanding-sleep. Acesso em: 08 set. 2024.

[6] Chatput J, Dutil C, Sampasa-Kanyinga H. Sleeping hours: what is the ideal number and how does age impact this?. Nat Sci Sleep, 2018. Disponível através do link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6267703/. Acesso em: 08 set. 2024.

[7] Cirelli C. Insufficient sleep: Definition, epidemiology, and adverse outcomes. UpToDate, 2024. Disponível através do link: https://www.uptodate.com/contents/insufficient-sleep-definition-epidemiology-and-adverse-outcomes#H433566388. Acesso em: 08 set. 2024.

[8] Instituto do Sono. Higiene do sono: tudo o que você precisa saber sobre essa prática. Instituto do sono, 2018. Disponível através do link: https://institutodosono.com/artigos-noticias/higiene-do-sono-tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-essa-pratica/. Acesso em: 08 set. 2024.

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