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A importância dos Testes Rápidos para Diagnóstico de Sífilis 

Lívia Corrêa Ferreira¹, Bárbara Laís Nascimento Silva¹, Bruna Peres Carvallho¹, Anne Aparecida Coelho Costa¹, Driely Rodrigues¹, Gabriel Teodoro Sirimarco², Letícia Gabriela Rocha Cunha³

¹ Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)

² Graduando do curso de Medicina (UFSJ-CCO)

³ Graduanda do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)

v.3, n.8, 2025

Agosto de 2025

A sífilis é uma doença que acomete o ser humano, tanto crianças como adolescentes e adultos. Causada pela bactéria Treponema pallidum, a infecção apresenta-se com diversos sinais e sintomas, podendo disseminar-se de forma progressiva pelo organismo [1,2]. Ela é a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que ocorre com maior frequência no Brasil, podendo ser transmitida não apenas pelo ato sexual, mas também por transfusões sanguíneas e através de lesões abertas [1]. A sífilis tem sido um desafio constante para vários profissionais de saúde, pois apesar da causa da doença e do tratamento serem conhecidos, seu diagnóstico ainda é um desafio (devido aos diferentes estágios que a doença apresenta) [3].


Pode ser congênita (transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez). A sífilis congênita, que acontece apenas em gestantes, é o resultado da proliferação da bactéria no sangue da gestante, que quando tratada de forma ineficiente ou não tratada de forma alguma,chega ao feto pela placenta [4,5]. Depois do nascimento, a doença também pode acometer indivíduos (sífilis congênita) e pode ser diagnosticada em qualquer um de seus quatro estágios conhecidos: sífilis primária, secundária, terciária e latente (os sintomas variam de acordo com cada um deles) [4,6]. Na fase conhecida como latente, não vão aparecer sintomas ou sinais, e esta subdivide-se em latente recente (na qual a infecção é mais recente - até um ano) e latente tardia (infecção com geralmente mais de um ano). Contudo, esse estágio pode ser interrompido pelo surgimento das fases primária ou secundária [6,7]. Sífilis primária apresenta-se como uma ferida sem dor, conhecida como “cancro duro”, rica em bactérias. Esta é mais comumente presente no local da infecção, estando portanto geralmente localizada nos órgãos genitais (mas podendo, no entanto, também  surgir na língua, lábios, dedos e em outras partes do corpo). Nessa fase o paciente irá apresentar uma ferida única, e os sintomas costumam aparecer entre 3 e 4 semanas após o contato com a bactéria. Na fase secundária, os sintomas vão aparecer entre 6 semanas e 6 meses, manifestando-se como manchas no corpo, especialmente nas palmas das mãos ou pés, conforme demonstrado na Figura 1. Essas manifestações podem ser temporárias, dando uma falsa impressão de melhora.

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Figura 1: Sífilis secundária – erupções na palma da mão.

Fonte: TMD. Saúde. 2024.

Diante desse cenário, o paciente pode desenvolver a sífilis terciária quando não tratado, a qual é considerada a fase mais grave da doença por desenvolver sinais na pele,  lesões ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo até evoluir para óbito. A Figura 2 mostra as lesões causadas pela sífilis terciária no crânio de um paciente. Com isso, o diagnóstico precoce da doença é de extrema importância para que o tratamento ocorra de forma correta e evite-se complicações. O mais indicado atualmente é a utilização de penicilina benzatina, sendo este o único medicamento com eficácia comprovada para sífilis e que pode ser usado também por gestantes. Recomenda-se que as doses sejam aplicadas a cada sete dias [8].

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Figura 2: Efeitos da sífilis terciária no crânio de um paciente.

Fonte: MD. Saúde.  2024.

No Brasil, em 2023, foram registrados 242.826 casos de sífilis adquirida, o que resultou em 113,8 casos por cada 100.000 habitantes. No mesmo ano, foram registrados 86.111 casos de sífilis congênita, com uma taxa de 34,0 casos por 1000 nascidos vivos [9].

 

Ainda que existam  estratégias para o controle da infecção retratada, o diagnóstico precoce e correto é de extrema importância. Porém, este continua enfrentando problemas devido à dificuldade de cultivo da bactéria, assim como pelos vários estágios que a doença apresenta [10]. O método mais preciso para o diagnóstico de sífilis é o de identificação direta da bactéria ou de componentes desta, como DNA. Porém, os testes disponíveis com esta finalidade identificam com sucesso somente a sífilis primária, além de dependerem de pessoas qualificadas, e instrumentos caros [10,11]. Existem outros testes que são realizados para validar a doença, que apesar de serem precisos, são também muito caros, e apresentam resultados falsos positivos [12,13].

 

Com base nessas informações, os testes rápidos (TRs - que são aqueles cuja aplicação, leitura e o esclarecimento dos resultados pode levar no máximo 30 minutos) são alternativas interessantes. São de fácil manuseio, precisos, não necessitam de uma estrutura laboratorial, de equipamentos muito caros e permitem atendimento imediato ao paciente [14].  No caso da sífilis possibilitaram, de posse de amostra de sangue do paciente, aumento da agilidade de resultados, o diagnóstico precoce, e o acompanhamento do sucesso do tratamento adequado [15].

 

O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece testes rápidos (Figura 3) para a população, com o intuito de facilitar a detecção de infecções como HIV e sífilis. Essa iniciativa é muito importante para a população, visto que alguns não possuem conhecimento da doença, ou muito menos de que estão infectados [14]. 

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Figura 3: Teste rápido.

Fonte: Gov.br. 2022.

Em um estudo feito em um complexo penitenciário de Salvador (BA), o qual teve como objetivo analisar o resultado de testes rápidos com 6.610 homens privados de liberdade, 581 tiveram resultados positivos para uma ou mais IST, sendo a sífilis a principal (com 80% dos casos). Logo, com os TRs são possíveis estas triagens e o aconselhamento da população, visto que muitos indivíduos não sabem que estão infectados e nem possuem conhecimento sobre a doença e formas de prevenção e tratamento [16].

 

 A bioquímica, que é a ciência que se dedica a entender os processos químicos nos seres vivos, é de extrema importância no desenvolvimento de TRs. Esse tipo de teste utiliza princípios bioquímicos e da imunologia (área da ciência que estuda a defesa do organismo contra doenças) para a detecção de substâncias ou agentes específicos nas amostras biológicas, como sangue. Além disso, tecnologias com aplicação biológica (biotecnologias) são cruciais para desenvolvimento, validação e bom funcionamento destes testes [17].

 

Logo, a sífilis é uma doença que continua sendo um problema importante de saúde pública, não só no Brasil, mas em todo mundo [11]. Assim sendo, os TRs são de suma importância para a detecção precoce da doença, objetivando tratamento e acompanhamento necessários. Além disso, com o tratamento adequado a doença não avança, evitando-se sinais/sintomas, infecção dos filhos pelas mães na gestação ou parto, e até mesmo o óbito. Um simples gesto agora, com o auxílio dos TRs, pode garantir um futuro livre da sífilis!

Referências Bibliográficas

[1] Silva AAO et al. 2020. Performance of Treponema pallidum recombinant proteins in the serological diagnosis of syphilis. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32555593/. Acesso em: 03 ago. 2025.

[2] Long FQ et al. 2012. Seroreactivity and immunogenicity of Tp0965, a hypothetical membrane protein of Treponema pallidum. Disponível através do link:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22884054/. Acesso em: 03 ago. 2025.

[3] Roncalli AG et al. 2021. Efeito da cobertura de testes rápidos na atenção básica sobre a sífilis em gestantes no Brasil. Disponível através do link: https://revistas.usp.br/rsp/article/view/194362. Acesso em: 03 ago. 2025.

[4] Brasil. 2021. Manual técnico para o diagnóstico da sífilis. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sifilis/publicacoes/manual-tecnico-para-o-diagnostico-da-sifilis.pdf. Acesso em: 03 ago. 2025.

[5] Avelleira JCR et al. 2006. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. Disponível através do link: https://www.scielo.br/j/abd/a/tSqK6nzB8v5zJjSQCfWSkPL​. Acesso em: 03 ago. 2025.

[6] Luo Y et al. 2021.Laboratory diagnostic tools for syphilis: current status and future prospects. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33628742/.  Acesso em: 03 ago. 2025.

[7] Morris SR. 2023. Sífilis. Manual MSD Versão Saúde para a Família. Disponível através do link:https://www.msdmanuals.com/pt/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%B5es-sexualmente-transmiss%C3%ADveis-ists/s%C3%ADfilis. Acesso em: 03 ago. 2025.

[8] Brasil. 2023. Notas técnicas - Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Disponível através do link:https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/notas-tecnicas/2023/sei_ms_-0034352557-_nota_tecnica_penicilina.pdf. Acesso em: 03 ago. 2025.

[9] Brasil. 2024. Boletim Epidemiológico de Sífilis 2024. Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/boletins-epidemiologicos/2024/sifilis.  Acesso em: 03 ago. 2025.

[10] Queiroz JHFS et al. 2022. Tp0684, Tp0750, and Tp0792 Recombinant Proteins as Antigens for the Serodiagnosis of Syphilis. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35974924/. Acesso em: 03 ago. 2025.

[11] Tan M et al. 2018. Screening and identification of immunoactive FlaB protein fragments of Treponema pallidum for the serodiagnosis of syphilis. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29228176/. Acesso em: 03 ago. 2025.

[12] Liu W et al. 2019. Performance of novel infection phase-dependent antigens in syphilis serodiagnosis and treatment efficacy determination. Disponível através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30326217/. Acesso em: 03 ago. 2025.

[13] Brasil. 2020. Hepatite D. Disponível através do link: https://www.gov.br/aids/pt-br/assuntos/hepatites-virais/hepatite-d. Acesso em: 03 ago. 2025.

[14] Brasil. 2022. Testes rápidos no SUS permitem diagnósticos em até 30 minutos. Disponível através do link: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2022/10/testes-rapidos-no-sus-permitem-diagnosticos-em-ate-30-minutos. Acesso em: 03 ago. 2025.

[15] Machado VS et al. 2017. Disponibilidade do teste rápido para sífilis e anti-HIV nas unidades de atenção básica do Brasil, no ano de 2012. Disponível através do link: https://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/823. Acesso em: 03 ago. 2025.

[16] Leite AGS et al. 2022. Testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites crônicas na população carcerária em um complexo penitenciário de Salvador (BA), Brasil. Disponível através do link: https://www.scielo.br/j/csc/a/jJqZQ8csqsSdM4qBPSMNGxc/?lang=pt. Acesso em: 03 ago. 2025.

[17] Celer Biotecnologia. 2025. A ciência por trás dos testes rápidos: como eles são desenvolvidos e validados. Disponível através do link: https://celer.ind.br/a-ciencia-por-tras-dos-testes-rapidos-como-eles-sao-desenvolvidos-e-validados/#:~:text=Os%20testes%20r%C3%A1pidos%20utilizam%20princ%C3%ADpios,detec%C3%A7%C3%A3o%20seletiva%20de%20biomarcadores%20cl%C3%ADnicos.. Acesso em: 03 ago. 2025.

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