Ecossistema dos Manguezais
Kézia Cristina Alves Pereira, Letícia Silva Souza, Luiz Felipe de Cássio Faustino, Victória Silva Júdice
Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
v.2, n.5, 2024
Maio de 2024
Os manguezais (Figura 1) são ecossistemas (sistemas complexos formados pela interação entre os seres vivos e o ambiente físico em uma determinada área) de grande importância para os seres vivos, especialmente para seus habitantes. São ambientes frágeis, mas que fornecem uma variedade de serviços ecossistêmicos vitais, como por exemplo, a polinização por abelhas, para o equilíbrio ambiental e o sustento de comunidades humanas [1].
Figura 1: Manguezal.
A autora Marta Vannucci contribuiu significativamente para a compreensão dos manguezais através de sua publicação "Os manguezais e nós" ao abordar diversos aspectos fundamentais desse ecossistema. Em sua obra, Vannucci destaca a importância destes como ecossistemas pouco estudados e pouco valorizados, ressaltando a relevância de sua conservação diante das possíveis mudanças ambientais globais, como a elevação do nível do mar. A autora demonstrou vasto conhecimento em manguezais, adquirido em programas regionais da Ásia e do Pacífico. Sua experiência prática e de pesquisa bibliográfica enriqueceu a compreensão científica sobre a fauna, flora e interações humanas nesse ecossistema [2].
O manguezal é um ecossistema marginal com grande e variado número de interações com outros ecossistemas, sendo característico a ele ser criado e mantido por um pequeno número de plantas no solo da faixa tropical entre marés. Outra particularidade é que, diferentemente da maioria dos ambientes marginais, é um sistema altamente ativo, muito produtivo e com capacidade de imobilizar sais de metais pesados. Os manguezais são ecossistemas costeiros tropicais e subtropicais (regiões com climas caracterizados por permitirem uma grande diversidade de espécies adaptadas às condições únicas dessas áreas) encontrados em regiões de transição entre o meio terrestre e o mar. Desenvolvem-se em áreas protegidas, como estuários, baías e deltas, onde a água doce dos rios encontra as águas salgadas do mar. Uma das características distintivas dos manguezais é a presença de árvores adaptadas à alta salinidade (alte quantidade de sal), como o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), o mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o mangue-preto (Avicennia germinans) [1,3].
Esse ecossistema abriga uma biodiversidade (variedade de vida na Terra) excepcionalmente rica, com uma diversidade de espécies vegetais e animais adaptadas às condições únicas desse ambiente. As raízes aéreas das árvores de mangue oferecem habitats ideais para uma diversidade de organismos, incluindo moluscos, crustáceos, peixes, aves e mamíferos. Esses seres vivos desempenham papeis importantes na teia alimentar dos manguezais e contribuem para a troca de nutrientes e a estabilidade do ecossistema, desempenhando uma variedade de funções ecológicas cruciais, e ainda atuam como berçários naturais para muitas espécies de peixes e crustáceos, proporcionando proteção contra predadores durante as fases iniciais de suas vidas. Além disso, eles ajudam a proteger a linha costeira contra a erosão, agindo como barreiras naturais contra tempestades e ondas. Suas raízes entrelaçadas estabilizam o solo e reduzem a força das correntes, contribuindo para a formação e manutenção de bancos de sedimentos [4,5].
Os manguezais possuem uma grande importância socioeconômica para as comunidades próximas. Servem como fonte de recursos naturais, fornecendo madeira, alimentos (como mariscos e peixes) e matéria-prima para atividades econômicas locais, como a pesca e o turismo. Além disso, sua vegetação desempenha um papel crucial na manutenção da qualidade da água e na regulação do clima, contribuindo para o bem-estar das comunidades costeiras [6].
Devido sua interação com outros ecossistemas, explicado através das marés, da costa e correntes oceânicas, partículas, materiais orgânicos dissolvidos e matéria produzida ou decomposta nos manguezais podem alcançar distâncias consideráveis do ponto de origem. Embora nem sempre a maioria dos manguezais exporte nutrientes para águas costeiras, há também afundamento de matéria orgânica que com o tempo se torna energia armazenada, como grama. Os manguezais oferecem abrigo, contribuem para o processo de assoreamento que eventualmente cria novas ilhas, além de fornecerem oportunidades de alimentação, de construção de ninhos para fauna e muitas outras interações com demais sistemas [3,7].
Ademais, os mecanismos naturais de florestas de mangue saudáveis imobilizam os poluentes metálicos, e outros compostos tóxicos. Isto compreende a sua adaptação ao solo inadequado do ponto de vista físico e químico daquele ambiente [3,4]. O desmatamento da floresta de mangue resultaria na mobilização de metais pesados acumulados, resultando em última análise na sua presença nas cadeias alimentares costeiras. Diante disso, nota-se que a conservação dos ecossistemas de mangue também pode contribuir significativamente para a manutenção da saúde ambiental das zonas costeiras tropicais [1,3,8].
Apesar de sua importância, os manguezais enfrentam uma série de desafios ambientais. No que tange a biodiversidade, a perda destes ambientes representa grave ameaça; são habitat para uma grande variedade de espécies marinhas e terrestres. Eles servem como berçários para peixes e crustáceos, oferecem abrigo e alimentação para aves migratórias e fornecem habitat para uma diversidade de insetos e microrganismos. Quando os manguezais são destruídos ou degradados, além de diminuir-se a resiliência das comunidades costeiras a eventos extremos, como tempestades e elevação do nível do mar, toda essa biodiversidade é perdida, causando desequilíbrios nos ecossistemas costeiros e impactando negativamente a cadeia alimentar e a saúde dos ecossistemas adjacentes. A sua conservação é uma prioridade.
Deve-se enfatizar a importância da gestão sustentável desses ecossistemas, que inclui a implementação de áreas protegidas, a restauração de habitats degradados, o monitoramento da qualidade da água e a promoção de práticas de desenvolvimento costeiro compatíveis com a conservação dos manguezais [1,3]. Estes são, portanto, ecossistemas notáveis que desempenham um papel fundamental na saúde dos ambientes costeiros e no bem-estar das comunidades humanas. A pesquisadora Marta Vannucci demonstrou ao longo das suas pesquisas a importância e o valor dos manguezais para a vida terrestre. Nesse sentido, são necessários cuidados, como a realização de programas sérios e de longo prazo de gestão racional dos ecossistemas de mangue. A gestão dos manguezais deve ser adaptada às suas especificidades, considerando sua singularidade, ressaltando a urgência de medidas para proteger e preservar esses ecossistemas para as gerações atuais e futuras [1-8].
Referências Bibliográficas
[1] Vannucci, M. Os mangues e nós. 1ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
[2] Varela AG. "Uma dádiva das marés": os estudos sobre manguezais da cientista Marta Vannucci em sua trajetória internacional, 1969-1989. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 27, n. 1, p. 115–132, mar. 2020.
[3] Vannucci, M. O que há de tão especial nos manguezais?. Revista Brasileira de Biologia , v. 61, p. 599-603, 2001.
[4] Silva HM de L. Manguezal em áreas costeiras e urbanizadas: diagnóstico da condição ambiental da vegetação e interações antrópicas. 2019. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.
[5] Leão AR. Do projeto a um plano nacional de conservação e uso sustentável dos manguezais do Brasil em unidades de conservação. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Escola Nacional de Botânica Tropical, 2017.
[6] Guedes DR da C. Análise dos serviços ecossistêmicos de provisão em dois sistemas estuarinos no litoral do Rio Grande do Norte, Brasil. 2018. Dissertação de Mestrado. Brasil.
[7] Pellegrini JA de C et al. Vulnerabilidade socioambiental dos manguezais de Garapuá, Cairu/BA frente à inserção da indústria petroleira. 2010.
[8] Renata, P. Biogeoquímica de metais pesados em solos de manguezal do Rio Botafogo - PE, Brasil. Ufrpe.br, 2018.