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Biodiversidade ameaçada

Júlia Alves Camelo Brasil¹, Laísa Aparecida Santos², Lucas de Araújo Gomes¹, Maria Eduarda Ferreira Santiago¹, Sarah Alves Vilela Almeida²

¹Graduandos do curso de Medicina (UFSJ-CCO)

²Graduandos do curso de Enfermagem. (UFSJ - CCO)

v.2, n.5, 2024
Maio de 2024

Biodiversidade é a variedade das formas de vida do planeta e das interações que ocorrem entre elas. Ela é medida pelo número de espécies em um ecossistema (conjunto de relações entre os seres vivos e os componentes não-vivos, como ar, água, solo e minerais de um ambiente), pela diversidade genética das populações de seres vivos, e pela forma como elas se distribuem. Assim, a biodiversidade pode ser definida como a riqueza de vida na Terra  [1-3]. 

Apesar da percepção da enorme variedade de formas de vida ser tão antiga quanto a própria espécie humana, o conceito de biodiversidade é relativamente novo e cada vez mais relevante, considerando o impacto crescente causado pelo homem sobre o ambiente [4]. Nesse contexto, o Brasil tem um papel crítico, por ser o país com a maior biodiversidade do mundo e abrigar mais de 20% do seu total de espécies [5]. Porém, na atualidade, o que se observa é uma ameaça a esse patrimônio pela atividade humana, que coloca em risco espécies vegetais e animais, com destaque para os anfíbios.

Por ser um conceito complexo e às vezes sem o devido reconhecimento de sua importância pelas pessoas, há uma limitação da proteção da biodiversidade. É necessário manter a variação entre os organismos vivos porque ela é uma característica fundamental da natureza, responsável pela sua estabilidade e equilíbrio; além disso, pelo seu grande potencial financeiro, dada a possibilidade de descoberta de substâncias de interesse cosmético e farmacológico - cerca de 25% dos produtos farmacêuticos receitados nos Estados Unidos atualmente possuem compostos ativos derivados de plantas - e, por fim, porque ela está ameaçada pelas atividades econômicas humanas, o que impacta todos os seres vivos. [6].

A ameaça à biodiversidade, agravada pela ação humana, é um problema com repercussões graves que não se limitam à extinção de espécies: a destruição dos ecossistemas está relacionada à maior frequência e ao surgimento de novas epidemias, a exemplo da COVID-19; à instabilidade do clima, tornando mais comuns as secas, enchentes, queimadas e ondas de calor, o que prejudica a agricultura, o bem-estar humano e a vida nas cidades. Soma-se a isso o prejuízo à produção de alimentos e a perda de meios de subsistência para populações que dependem diretamente do ambiente para sobreviver, como os ribeirinhos, seringueiros e os pequenos agricultores  [7,8].

A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que as principais ameaças às formas de vida são a introdução de espécies exóticas, ou seja, que naturalmente não ocorrem naquele ambiente, em novos ecossistemas; a exploração intensiva do solo e das águas, como pela agropecuária e pela indústria; a pressão sobre o meio para a extração de recursos naturais, como minérios, petróleo e gás natural; a poluição do ar, águas e do solo; além da própria mudança climática, caracterizada pelas emissões massivas de gases como o dióxido de carbono e metano, pelo aumento da temperatura do planeta e pelos eventos climáticos intensos e imprevisíveis [9].

O bioma (grande área ambiental formada por um complexo de ecossistemas com características similares) mais afetado pela perda de biodiversidade no Brasil é a Mata Atlântica, da qual resta apenas 28% da cobertura original [10,11]. Ela abriga cerca de 43% das espécies ameaçadas de extinção no Brasil, sendo que cerca de 34% de sua biodiversidade foi perdida como consequência da ação humana [12,13]. Entre os principais fatores responsáveis por esse cenário estão a urbanização, a poluição ambiental por lixo e esgoto, o desmatamento e as queimadas, além da atividade agropecuária.

Um dos grandes sinais de perda de biodiversidade pelo mundo é a queda da população de anfíbios, explicada pela sensibilidade desses animais às mudanças climáticas. Sua pele úmida (palco de constante evaporação de água), além da temperatura corporal baixa, estão relacionadas a esse processo [14]. Entre os fatores responsáveis pelo declínio dos anfíbios estão as alterações do clima, a perda de hábitats e a introdução de parasitos desses animais no ambiente [15]. Estima-se que 12% das espécies de anfíbios da Mata Atlântica serão extintas até 2050, muitas delas únicas deste bioma [16].

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Entre os anfíbios da Mata Atlântica, a espécie de sapo Paratelmatobius lutzii integra a Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção [17]. Criticamente em perigo, foi descrita pela primeira vez pela bióloga Bertha Lutz (Figura 1), em 1931, na Serra da Bocaina [18]. Além de descobrir uma nova espécie de sapo, Bertha deixou um legado para o país, especialmente para as mulheres. Nascida em 1894, filha do cientista pioneiro da Medicina Tropical Adolfo Lutz, formou-se em Biologia pela Universidade de Sorbonne, na França. Foi a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro e, em 1919, foi uma das pioneiras na defesa do voto feminino com a criação da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Organizou o primeiro congresso feminista do país e defendeu a proteção do trabalho da mulher na Organização Internacional do Trabalho [19,20]. As contribuições de Bertha para a ciência e o feminismo brasileiro permanecem até os dias atuais e inspiram a luta pelos direitos da mulher e pela preservação da biodiversidade brasileira.

Em suma, a biodiversidade dos biomas brasileiros, especialmente da Mata Atlântica, está cada vez mais ameaçada, em razão da interação humana prejudicial para com a natureza. Nesse sentido, para minimizar a ameaça à biodiversidade, é preciso diminuir os impactos da exploração natural, o que pode ser feito pela criação de novas áreas de proteção ambiental; pela maior fiscalização e combate contra o desmatamento e a poluição ambiental; pela promoção de uma agricultura mais sustentável, com menor uso de pesticidas; e por meio do gerenciamento sustentável de recursos naturais, como madeira e pescado [3]. Assim, a pressão sobre a natureza será menor, a biodiversidade será mantida e as futuras gerações poderão viver em um ambiente biodiverso e com acesso pleno aos seus direitos sociais e ambientais, assim como almejava Bertha.

Referências Bibliográficas

[1] DICIONÁRIO AMBIENTAL. O que é um ecossistema e um bioma. (O)Eco, 25 jul 2014. Disponível através do link: https://oeco.org.br/dicionario-ambiental/28516-o-que-e-um-ecossistema-e-um-bioma/. Acesso em: 07 mai. 2024.

[2] NATIONAL RESEARCH COUNCIL (US) COMMITTEE ON NONECONOMIC; ECONOMIC VALUE OF BIODIVERSITY. What is biodiversity? Washington, DC, USA: National Academies Press, 1999. Disponível através do link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK224405/. Acesso em: 07 mai. 2024.

[3] ENEL GREEN POWER. Biodiversidade: o que é, por que é importante e como preservá-la. Disponível através do link: https://www.enelgreenpower.com/pt/learning-hub/desenvolvimento-sustentavel/biodiversidade. Acesso em 07 mai. 2024

[4] Franco JL de A. O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. História (São Paulo), v. 32, n. 2, p. 21–48, jul. 2013. Disponível através do link: https://www.scielo.br/j/his/a/LZyXDZjgmVh4ssHfPPNrGHd/. Acesso em: 05 mai. 2024.

[5] MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA- Biodiversidade. Disponível através do link: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade-e-ecossistemas#:~:text=O%20Brasil%20ocupa%20quase%20metade,e%20tr%C3%AAs%20grandes%20ecossistemas%20marinhos. Acesso em: 07 mai. 2024.

[6] BRASIL. Impactos sobre a biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente, 2014. Disponível através do link: https://antigo.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-global/impactos.html. Acesso em: 07 mai. 2024

[7] Schmeller DS, Courchamp F, Killeen G. Biodiversity loss, emerging pathogens and human health risks. Biodiversity and Conservation, v. 29, p. 3095–3102, 13 ago. 2020. Disponível através do link: https://link.springer.com/article/10.1007/s10531-020-02021-6. Acesso em: 07 mai. 2024.

[8] Azevedo J. Entenda os impactos da perda da biodiversidade. eCycle, 2014. Disponível através do link: https://www.ecycle.com.br/perda-da-biodiversidade/. Acesso em 07 mai. 2024.

[9] UN- ENVIRONMENT PROGRAM. Five drivers of the nature crisis. 2023. Disponível através do link: https://www.unep.org/news-and-stories/story/five-drivers-nature-crisis.  Acesso em: 07 mai. 2024. 

[10] BRASIL. Nosso território: biomas. IBGE Educa, 2024. Disponível através do link: https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/nosso-territorio/19635-ecossistemas.html#:~:text=Bioma%20%C3%A9%20um%20conjunto%20de,resultando%20em%20uma%20diversidade%20de. Acesso em 07 mai. 2024.

[11] SOS - MATA ATLÂNTICA. Qual é a área de cobertura da Mata Atlântica? mar. 2019. Disponível através do link:  https://www.sosma.org.br/artigos/qual-e-area-de-cobertura-da-mata-atlantica/. Acesso em: 07 mai. 2024.

[12] Canquerino M. Ação humana sobre a Mata Atlântica gera perdas de 23 a 42% da biodiversidade. Jornal da USP. 2019. Disponível através do link: https://jornal.usp.br/ciencias/acao-humana-sobre-a-mata-atlantica-gera-perdas-de-23-a-42-da-biodiversidade/. Acesso em: 07 mai. 2024.

[13] Abdala V. Agência Brasil- Atlantic Forest: Brazilian biome with most endangered species. 2025. Disponível através do link:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/en/geral/noticia/2023-05/atlantic-forest-has-highest-number-endangered-species-says-research. Acesso em: 07 mai. 2024.

[14] Veloso S. Mudanças climáticas e destruição de hábitats são principais ameaças globais a anfíbios, diz estudo. 2023. Disponível através do link: https://unbciencia.unb.br/biologicas/34-engenharia-florestal/725-mudancas-climaticas-e-destruicao-de-habitats-sao-principais-ameacas-globais-a-anfibios-diz-estudo. Acesso em: 07 mai. 2024.

[15] Carvalho T, Becker CG, Toledo LF. Historical amphibian declines and extinctions in Brazil linked to chytridiomycosis. Proceedings. Biological sciences, v. 284, n. 1848, p. 20162254, 2017. Disponível através do link: http://dx.doi.org/10.1098/rspb.2016.2254. Acesso em: 07 mai. 2024.

[16] UFG- Ecologia e Evolução. Aquecimento global ameaça anfíbios da Mata Atlântica. 2014. Disponível através do link: https://ecoevol.ufg.br/n/66934-aquecimento-global-ameaca-anfibios-da-mata-atlantica?locale=es. Acesso em: 07 mai. 2024.

[17] SIBBR. Species: Paratelmatobius lutzii. Disponível através do link: https://ala-bie.sibbr.gov.br/ala-bie/species/199120#overview. Acesso em: 07 mai. 2024.

[18] Zaher H, Aguiar E, Pombal JP Jr.  Paratelmatobius Gaigeae (Cochran, 1938) Re-discovered (Amphibia, Anura, Leptodactylidae). Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.63, n.2, p.321-328. 2005 Disponível através do link: http://www.herpetologiamuseunacional.com.br/Pombal/pdf/05_paratelmatobius.pdf. Acesso em: 07 mai. 2024.

[19] SENADO NOTÍCIAS- Bertha Luz. 2015. Disponível através do link: https://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/bertha-lutz. Acesso em: 07 mai. 2024.

[20] FIOCRUZ. Bertha Luz. Biblioteca Virtual Adolpho Lutz. Disponível através do link:  https://www.bvsalutz.coc.fiocruz.br/html/pt/static/trajetoria/heranca/bertha.php. Acesso em: 07 mai. 2024.

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