A arte como forma de tratamento - Nise da Silveira
Bernardo Esteves, Indiana Dayane, Ingrid Sabino, Mileny Borges, Vitória de Oliveira, Yasmim Araújo
Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
v.1, n.2, 2023
Outubro de 2023
Nascida em Maceió no ano de 1905, Nise da Silveira ficou conhecida como a mulher que revolucionou o tratamento psiquiátrico não só no Brasil como no mundo. Nise teve sua formação acadêmica na prestigiada faculdade de medicina da Bahia em 1926 [2], entretanto, não pode continuar na sua cidade natal devido a problemas financeiros que surgiram após a morte de seus pais. Tendo em vista esta situação, migrou-se para o Rio de Janeiro, onde conseguiu a oportunidade de trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, localizado na Praia Vermelha [2] . Apesar de sempre ter sido considerada um destaque na área da psiquiatria, Nise enfrentou diversos obstáculos completamente inesperados ao longo da sua trajetória. Dentre eles, pode-se citar o fato da médica ter sido detida no presídio Frei Caneca, no ano de 1936, por mais de um ano e meio. O motivo? Nise foi denunciada por uma colega de profissão sob a alegação de possuir livros marxistas em seu ambiente de trabalho, o que na época era considerado crime pelo governo de Getúlio Vargas [3]. Nise pode retornar ao seu serviço somente no ano de 1944, no qual começou os seus trabalhos no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro [1].
A partir disso, a médica se tornou cada vez mais conhecida pela utilização de atividades expressivas como tratamento de doenças mentais, nas quais tinha como inspiração principal a psicologia junguiana, que possui como objetivo principal o restabelecimento do equilíbrio emocional por meio do inconsciente.
Seguindo o que acreditava, Nise se tornou pioneira na chamada terapia ocupacional, método que consistia na utilização de atividades recreativas (pinturas, peças, interação com animais domésticos), no tratamento de distúrbios psiquiátricos [1]. A médica se tornou destaque pela utilização de tratamentos mais humanizados nos pacientes com transtornos mentais. Se antes eram utilizados procedimentos agressivos e desumanos, como eletrochoque e lobotomia, com a interferência de Nise passou-se a aplicar a arte como forma de expressão, de forma a tentar amenizar os conflitos internos vividos pelos pacientes.
Em 1952, Nise fundou o Museu de Imagens do Inconsciente [4], onde tinha como intuito a exposição de obras feitas pelos seus pacientes, uma forma de conscientização e afirmação da importância de seus métodos de tratamento. A Figura 1 retrata o estilo das pinturas realizadas por pacientes e expostas no Museu. Pouco tempo após, em 1956, ela também fundou a Casa das Palmeiras [1], uma clínica pioneira no regime de externato (atuação de portas abertas). Tal espaço é caracterizado pela utilização de processos terapêuticos, visando a socialização dos pacientes ali presentes.
Logo, é possível constatar-se e concluir-se acerca do quão importante foram as contribuições de Nise Silveira na humanização dos tratamentos psiquiátricos, não só no Brasil. Sendo pioneira na sua forma de pensar e agir, suas atitudes melhoraram as condições de vida de uma classe de indivíduos que até pouco tempo atrás era completamente negligenciada.
Apesar de seu falecimento em 1999, o legado de Nise vive até hoje, através de suas instituições e de sua corrente de pensamento.
Figura 1: Estilo de pinturas que eram realizadas por pacientes do Museu do Inconsciente idealizado por Nise da Silveira.
Fonte: Flickr, 2023.
Referências Bibliográficas
[1] Dulce, E. Nise da Silveira: a mulher que revolucionou o tratamento mental por meio da arte. Disponível através do link: https://www.brasildefato.com.br/2018/02/15/nise-da-silveira-a-mulher-que-revolucionou-o-tratamento-da-loucura-por-meio-da-arte#:~: text=Inspirada%20em%20Carl%20Jung%2C%20um,no%20tratamento%20de%20dist%C3%BArbios%20ps%C3%ADquicos. Acesso em: 01 out. 2023.
[2] Magaldi, F. et al. Das memórias de Nise da Silveira no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro. Disponível através do link: http://dx.do i.org/10.1590/1678-49442019v25n3p635. Acesso em: 01 out. 2023.
[3] Mello, LC. Nise da Silveira: caminhos de uma psiquiatra rebelde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Automática Edições, 368 p., 2015.
[4] Veiga, E. Nise da Silveira: quem foi a psiquiatra brasileira que foi pioneira no tratamento com artes. 2022. Disponível através do link: https: //www.bbc.com/portuguese/brasil-61603637. Acesso em: 01 out. 2023.