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Dengue no Brasil: Avanços na Prevenção

André Lima Mamud¹, Mateus Henrique Martins Gomes¹, Beatriz Monteiro Ribeiro², Eduardo Bergamasco Thomé¹, Kevelyn Moreira Libório¹, Natália Pereira Junqueira¹, Pedro Cazarin Cruz¹, Regis Honorio Prado¹

¹ Graduandos do curso de Medicina (UFSJ CCO)

² Graduanda do curso de Bioquímica (UFSJ CCO)

v.3, n.10, 2025
Outubro de 2025

A dengue é uma doença endêmica no Brasil, isto é, acontece comumente durante o ano em nosso país [1]. O número de casos cresce nos períodos de chuvas e calor, pois tais fatores facilitam a reprodução do mosquito vetor Aedes aegypti: o que traz maiores riscos para epidemias. A doença se manifesta com febre alta de início súbito, afeta todo o organismo, pode evoluir de forma rápida, e possui outros sintomas que variam entre indivíduos. Ademais, é capaz de progredir para formas graves, inclusive levar a óbito (mais comumente em idosos e portadores de outras doenças) [2]. Nesse sentido, desde o século XX, a principal medida contra a transmissão da dengue é o controle vetorial (combate ao mosquito): alvo dos programas governamentais [3]. Porém, em março de 2023 foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) uma medida adicional de manejo no Brasil: a vacina Qdenga. Esta foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2023, após avaliação de sua eficácia, custo e segurança (avaliação esta realizada pela Comissão Nacional de Incorporação e Tecnologia do SUS (Conitec)) [4].

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Figura 1: Caixa da vacina Qdenga contra dengue, da fabricante Takeda.

Fonte: Wikimedia Commons.

A vacina Qdenga é do tipo tetravalente atenuada, ou seja, protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue utilizando organismos enfraquecidos, que não causam a doença. Para isso, foi utilizada a cepa do vírus tipo 2, a qual funciona como a estrutura principal da vacina, fornecendo a base genética. A partir dela, foram desenvolvidas três variantes ditas quiméricas: nas quais os genes (sequências de DNA) que codificam as proteínas de superfície do microrganismo do tipo 2 foram substituídos pelos genes dos sorotipos 1, 3 e 4. Através disso, a vacina estimula o sistema imunológico a reconhecer e proteger contra todos os quatro sorotipos do vírus da dengue [3].

A vacina foi desenvolvida pela companhia farmacêutica japonesa Takeda e é indicada para a prevenção em indivíduos dos 4 aos 60 anos de idade, mesmo que já tenham tido contato com o vírus. Deve ser administrada em 2 doses, com intervalo de 3 meses entre elas. A aplicação é subcutânea (0,5mL/dose) na região deltoide (ombro) e não deve ser misturada com qualquer outro imunizante. É recomendada a observação do vacinado após o procedimento: 30 minutos para pessoas com histórico de reações alérgicas graves e 15 para pessoas sem histórico [4]. No SUS, a estratégia inicial prioriza a vacinação de indivíduos na  faixa etária de 10 a 14 anos,  os quais residem 

em localidades prioritárias baseadas em critérios epidemiológicos (regiões com maior histórico de número de casos, por exemplo). Tal faixa foi escolhida pois as hospitalizações resultantes da doença nos últimos 5 anos estão concentradas nela, comparado às demais faixas [3]. Porém, o Ministério da Saúde publicou no dia 14 de fevereiro de 2025 uma nota técnica para atualizar e ampliar o público-alvo devido à baixa adesão e à proximidade da validade das doses. As doses que estão com prazo de validade para dois meses, poderão ser remanejadas para municípios não contemplados ou serem aplicadas em pessoas de 6 a 16 anos. Já as que completarem um mês para validade, poderão ser aplicadas de 4 a 60 anos, o limite presente na bula [5].

Diante desse cenário, é válido ressaltar os resultados de eficácia obtidos em estudos clínicos. O programa de desenvolvimento clínico global, realizado pela farmacêutica durante 15 anos, envolveu mais de 28 mil indivíduos de 1,5 a 60 anos de idade em 13 países. Demonstrou-se redução de 80,2% nos casos de dengue sintomática e de 90,4% nas hospitalizações [4]. A análise sobre a efetividade e segurança a longo prazo em crianças e adolescentes exibiu resultados satisfatórios ao longo de 4 a 5 anos. Os dados indicaram eficácia de 61,2% na proteção contra a  dengue confirmada em exames para a presença do vírus e de 84,1% contra a que leva à hospitalização. Em participantes que já tiveram contato com o vírus, a defesa foi mantida contra os quatro sorotipos, enquanto em indivíduos sem exposição anterior, foi maior contra o tipo 1 e o tipo 2 [6].

Ademais, a vacina apresentou um bom perfil de segurança, com efeitos colaterais leves e moderados. Os mais comuns, presentes em 10% dos pacientes, foram: dor ou rubor no local da aplicação, dor de cabeça, dor muscular, mal-estar geral, fraqueza, febre, infecções de nariz ou garganta, irritabilidade e sonolência. Cerca de 1% e 10% dos pacientes relataram inchaço, hematoma ou coceira no local da aplicação, dor nas articulações e doença gripal. É relevante ainda mencionar as contraindicações da vacina. Não é recomendada para indivíduo alérgico a qualquer componente da vacina, para aqueles que apresentarem reação alérgica após a primeira dose, para os imunocomprometidos (com sistema de defesa já comprometido), para gestantes e mulheres amamentando [7].

Diante das informações expostas, ressalta-se a importância de se valorizar as vacinas. Elas são um grande avanços no âmbito da prevenção de doenças, evitando milhares de mortes anualmente. Para que sejam consideradas seguras, passam por rigorosos estudos, testes e controles de qualidade antes da entrega para a população. Não são livres de efeitos adversos assim como a maior parte dos medicamentos também não é; mas a grande maioria destes efeitos é leve e passageira. Ou seja, os benefícios observados superam os eventuais desconfortos [8,9].

Referências Bibliográficas

[1] Brasil - Ministério da Saúde. 2008. Glossário epidemiológico. Disponível através do link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/glossario_ms.pdf. Acesso em: 07 out. 2025.

[2] Brasil - Ministério da Saúde. 2024. Dengue: diagnóstico e manejo clínico – adulto e criança. Disponível através do link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_diagnostico_manejo_clinico_6ed.pdf. Acesso em: 07 out. 2025.

[3] Brasil - Ministério da Saúde. 2024. Nota Técnica Nº 7/2024-CGFAM/DPNI/SVSA/MS: Recomendações para vacinação contra a dengue com a vacina Qdenga®.

[4] Takeda Distribuidora Ltda. 2024. Carta informativa sobre a vacina Qdenga® contra a dengue da Takeda. São Paulo: Takeda.

[5] Brasil - Ministério da Saúde. 2025. Saúde amplia recomendação da vacina da dengue de acordo com vencimento. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/fevereiro/saude-amplia-recomendacao-da-vacina-de-acordo-com-vencimento. Acesso em: 07 out. 2025.

[6] Biswal S et al. Long-term efficacy and safety of a tetravalent dengue vaccine in children and adolescents: a phase 3, randomized, double-blind, placebo-controlled trial. 2024.

[7] Takeda Pharma Ltda. Bula do paciente – Qdenga®. Disponível através do link: https://consultas.anvisa.gov.br/#/bulario/q/?nomeProduto=Qdenga. Acesso em: 07 out. 2025.

[8] Brasil - Ministério da Saúde. Vacinas: seguras, eficazes e para todos. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/campanhas-da-saude/arquivos/ebook_vacina_final_alta.pdf. Acesso em: 07 out. 2025.

[9] Brasil - Ministério da Saúde. 2024. Informe técnico-operacional: estratégia de vacinação contra a dengue. Disponível através do link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/informe_tecnico_estrategia_vacinacao_dengue_2024.pdf. Acesso em: 07 out. 2025.

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