
Bioquímica Clínica: presente e futuro da medicina laboratorial
Enzo Pace Raizaro¹, Gabrielle Guimarães Queiroz², Helloysa Gabrielly da Silva Batista Ribeiro², Laila De Vasconcelos², Maria Clara Pedrosa Ferreira³, Maria Luiza de Paula Corrêa², Thaynara Paula Silva, Vaneza Gomes De Brito³
¹ Graduando do curso de Medicina (UFSJ-CCO)
² Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
³ Graduandas do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
v.3, n.10, 2025
Outubro de 2025
No ramo da medicina laboratorial, a bioquímica clínica é uma área especializada no diagnóstico de várias doenças. Baseando-se na medição de compostos em fluídos corporais, como sangue e urina, é uma ciência que combina conhecimentos de medicina e química biológica para explicar as alterações metabólicas (modificações nas reações químicas que ocorrem nas células, como a produção ou consumo anormal de substância, que indicam problemas no funcionamento do organismo, como em casos de diabetes, insuficiência renal ou distúrbios hormonais), que ocorrem em diferentes patologias. Com o avanço da tecnologia, tal área se tornou de extrema importância, sendo útil em centros de pesquisa, clínicas, laboratórios e hospitais [1,2].
Por meio de técnicas de análise capazes de medir, por exemplo, proteínas, enzimas (aceleradores de reações biológicas), hormônios (sinalizadores biológicos) e íons (como sódio e potássio) em amostras biológicas (Figura 1), é possível realizar diagnósticos precoces, identificando mudanças no metabolismo mesmo antes do surgimento dos sintomas [3]. As determinações quantitativas (de concentração, de quantidade) destas estruturas mencionadas são realizadas por equipamentos conhecidos como analisadores de química clínica. Esses aparelhos usam técnicas de espectrofotometria (envolvendo luz), imunoensaio (envolvendo anticorpos) e cromatografia (envolvendo a separação de compostos por características como tendência de interação com determinadas moléculas) para medir concentração de substâncias de interesse, permitindo um diagnóstico preciso e rápido [1].

Figura 1: Tubos de coleta de sangue usados em análises laboratoriais.
Fonte: https://bioquimicabrasil.com/2016/06/12/o-bioquimico-no-diagnostico-molecular-e-bioquimica-clinica/
Além disso, a sua importância deste ramo da bioquímica se dá pela identificação dos marcadores bioquímicos, sendo conhecidos como biomarcadores. Estes são estruturas com papel de indicar a presença ou tendência a desenvolvimento de uma condição específica associada a alguma doença, ajudando não só a detectá-la, mas também monitorá-la ou avaliar a eficácia dos tratamentos. Como exemplos, pode-se mencionar a troponina, um biomarcador do coração, ajudando no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio ou a proteína C reativa (PCR), um marcador usado para detectar doenças autoimunes, infecções ou complicações. Logo, a dosagem desses marcadores é essencial para identificar o risco e fornecer informações sobre a eficiência de tratamento para os pacientes [3].
Assim sendo, como previamente mencionado a bioquímica clínica não se limita a diagnóstico de doenças. É também de extrema importância no monitoramento terapêutico, avaliando as respostas aos medicamentos, os efeitos colaterais e o evoluir clínico do paciente. Esse monitoramento é muito relevante, por exemplo, em terapias hormonais (uso de hormônios sintéticos ou naturais para corrigir deficiências ou excessos dos sinalizadores hormonais no corpo) e imunossupressoras (tratamento que diminui a resposta do sistema de defesa do organismo). É também útil em casos do uso de medicamentos hepatotóxicos e nefrotóxicos (medicamentos que causam danos ao fígados e aos rins, respectivamente). Sendo assim, contribui para oferecer segurança no personalizar a abordagem terapêutica, permitindo o ajuste das doses de medicamentos de cada paciente individualmente [3].
Outro ponto importante deste ramo da bioquímica, é que ele consegue estar presentes em diversas áreas da medicina, como na triagem neonatal, medicina preventiva, acompanhamento da gestação e fertilidade. Suas aplicações nessas áreas se dão, por exemplo, em testes do pezinho com recém nascidos (que é capaz de detectar doenças herdadas dos pais) e exames hormonais em mulheres para investigar infertilidade, distúrbios menstruais e doenças como a síndrome dos ovários policísticos [2].
Em contrapartida, por mais que a bioquímica clínica traga inúmeros benefícios, ela ainda enfrenta alguns desafios, como a padronização dos resultados realizados em laboratórios diferentes, a interpretação dos exames de acordo com o histórico clínico dos pacientes de forma individualizada, a desigualdade ao acesso de tecnologias de ponta em áreas com infraestrutura limitada, bem como a falta de atualização constante de alguns profissionais diante das novas descobertas científicas [3].
Nesse cenário, o futuro da bioquímica clínica avança por um caminho junto com aquele da medicina personalizada, no qual os exames são adaptados para a realidade de cada paciente. Para diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, tem-se a junção da bioquímica com outras áreas como: 1) genômica (ciência que estuda o material genético, o DNA); 2) proteômica (estudo do conjunto completo das proteínas expressas por um organismo); 3) metabolômica (estudo das respostas do metabolismo a partir de mudanças realizadas nos sistemas biológicos); 4) bioinformática (associada ao uso de banco de dados, que otimizam o processo do diagnóstico e facilitam a interpretação dos resultados) [2]. Neste sentido, representando um avanço na medicina preventiva, têm sido desenvolvido testes com o objetivo de diagnosticar doenças raras em recém nascidos nas fases iniciais a partir de uma amostra mínima de 1 mL de sangue, por exemplo. Consequentemente, a tendência da bioquímica clínica é de evoluir para permitir a realização de exames de um modo cada vez menos invasivo, mais rápido e com a maior fidelidade possível à realidade, o que a tornará ainda mais indispensável no cenário da saúde pública e privada [4].
Em suma, é evidente que a bioquímica clínica é uma área que une ciência, tecnologia e o bem estar do individual de cada paciente, permitindo diagnósticos precoces, e tratamentos personalizados. Portanto, a constante evolução e crescentes valorização e investimento nessa área são fundamentais para um serviço de saúde eficiente e seguro [1,3].
Referências Bibliográficas
[1] Minas Labor. O que é Bioquímica Clínica? Disponível através do link: https://www.minaslabor.com.br/glossario/o-que-e-bioquimica-clinica/. Acesso em: 07 out. 2025.
[2] Top Doctors UK. Bioquímica Clínica. Disponível através do link: https://www.topdoctors.co.uk/medical-dictionary/clinical-biochemistry/. Acesso em: 07 out. 2025.
[3] IT Medical Team. Explorando o papel da bioquímica clínica no diagnóstico e tratamento de doenças: tendências atuais e direções futuras. Disponível através do link: https://www.itmedicalteam.pl/articles/exploring-the-role-of-clinical-biochemistry-in-disease-diagnosis-and-management-current-trends-and-future-directions-119059.html. Acesso em: 07 out. 2025.
[4] The Guardian. Exame de sangue pode acelerar o diagnóstico de doenças raras em bebês. Disponível através do link: https://www.theguardian.com/science/2025/may/23/blood-test-could-speed-diagnosis-rare-diseases-babies. Acesso em: 07 out. 2025.