
Automedicação e seus riscos à saúde pública
João Pedro Pires de Castro¹, Karine da Silva Souza¹, Antonio Lucas Oscar da Penha de Mattos¹, Isabelly Rossi Ferreira², João Victor Andrade², Anne Caroliny Teles dos Santos³, Daniela Cristina Alves Barbosa³, Jéssica Lara Vargas Oliveira³
¹ Graduandos do curso de Enfermagem (UFSJ-CCO)
² Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
³ Graduandas do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
v.3, n.9 2025
Setembro de 2025
A automedicação é a prática do uso de medicamentos sem prescrição ou orientação de um profissional da saúde. Embora comum no Brasil e no mundo, representa um sério problema de saúde pública. No Brasil, a família, seguida pelos balconistas da farmácia, amigos, vizinhos e artistas de TV são os principais agentes que indicam medicamentos sem prescrição médica (Figura 1). Tal prática pode acarretar no paciente desde reações adversas a medicamentos até o agravamento de doenças que não foram diagnosticadas, e também resultar no aumento da resistência bacteriana quando o medicamento em questão é um antibiótico, por exemplo.

Figura 1: Principais prescritores leigos e informais no Brasil.
Fonte: ICTQ (2018).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos é um dos pontos fortes para a saúde, sendo a automedicação um dos obstáculos mais relevantes. Esta prática de se automedicar está correlacionada com muitos fatores, sendo eles a dificuldade de acolhimento e acesso à saúde pública, urgência de alívio nos sintomas, uso já realizado pelo medicamento e, como previamente mencionado, interferências de terceiros como familiares, amigos e internet [1].
Diante do que foi apresentado as consequências da automedicação podem ser desde problemas mais leves a problemas mais graves. Os riscos mais comuns são reações alérgicas, intoxicações, efeitos colaterais indesejados, interação com outros medicamentos e agravamento da doença. Um dos exemplos mais preocupantes é o uso inadequado de antibióticos, que contribui diretamente para o aumento da resistência microbiana, o que pode prejudicar, por exemplo, o tratamento de infecções futuras [2].
A facilidade com que se adquire medicamentos sem prescrição contribui intensamente para a manutenção desse comportamento. A venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) continua elevada, mesmo após a publicação da RDC nº 882/2024 no Brasil, que estabelece os requisitos sanitários e os procedimentos para o enquadramento de medicamentos como isentos de prescrição [3]. Um exemplo relevante é a venda de paracetamol, utilizado para alívio de dores leves e febre. Como é considerado seguro quando usado corretamente, ele pode ser vendido sem receita. No entanto, o uso de forma inadequada pode mascarar sintomas de doenças mais graves ou causar efeitos adversos, como danos ao fígado, em casos de superdosagem [4].
Diante desse cenário, as redes sociais exercem grande influência; Isto pois trata-se de um meio através do qual as informações podem ser amplamente divulgadas sem compromisso com a verdade. O compartilhamento de experiências sobre medicamentos sem estudo científico é um comportamento que apresenta risco. Muitas vezes, essas informações são absorvidas pelo público como verdades absolutas, sem a devida orientação profissional. Alguns exemplos são a recomendação de uso de medicamentos para insônia, ansiedade e dores musculares, incentivando sua utilização desacompanhada de prescrição com rigor por profissional da área da saúde [5].
Em síntese a automedicação é uma prática enraizada na sociedade, e seu enfrentamento exige um olhar mais crítico e multidisciplinar. Embora o autocuidado seja parte da promoção da saúde, o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o uso racional de medicamentos, o fortalecimento da atenção primária, a atuação ativa dos farmacêuticos e a regulação da publicidade são ferramentas que deveriam ser utilizadas de maneira mais ampla para amenizar os danos causados pela prática de automedicar-se sobre a saúde humana [6].
Referências Bibliográficas
[1] World Health Organization (WHO). 2014. The role of pharmacist in self-care and self-medication. Disponível através do link: https://apps.who.int/iris/handle/10665/65860. Acesso em: 07 set. 2025.
[2] Souza LM et al. Automedicação em adultos brasileiros: fatores associados e implicações para a saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, n. 4, p. e00070619, 2020. Disponível através do link: https://doi.org/10.1590/0102-311X00070619. Acesso em: 07 set. 2025.
[3]BRASIL - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 882, de 10 de janeiro de 2024. Disponível através do link: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-882-de-10-de-janeiro-de-2024-529067538. Acesso em: 07 set. 2025.
[4] LIMA MA et al. Medicamentos isentos de prescrição: perfil de consumo e os riscos tóxicos do paracetamol. Disponível através do link: https://www.researchgate.net/publication/320724854_Medicamentos_isentos_de_prescricao_perfil_de_consumo_e_os_riscos_toxicos_do_paracetamol. Acesso em: 07 set. 2025.
[5] Cruz ALdS et al. Automedicação: um problema de saúde pública. Administração em Diálogo, v. 6, n. 1, p. 40–53, 2004. Disponível através do link: https://revistas.unasp.edu.br/rpds/article/view/1141. Acesso em: 07 set. 2025.
[6] Coelho MTAD et al. Relação entre a autopercepção do estado de saúde e a automedicação entre estudantes universitários. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, v. 6, n. 1, p. 5–13, 2017. Disponível através do link: https://revistas.unasp.edu.br/rpds/article/view/1141. Acesso em: 07 set. 2025.