
Anticoncepcional Masculino: Responsabilidade compartilhada na contracepção
Anna Luiza Ferreira Vieira, Jhennifer Lorrane da Silva Pereira Dias, Maria Eduarda Botelho, Maria Fernanda Araújo Porto, Nycolas Emanuel Santiago Carneiro, Thamyris Neves do Nascimento
Graduandos do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
v.3, n.8, 2025
Agosto de 2025
Atualmente, o método mais comum de contracepção masculina (visando evitar gravidez como consequência de ato sexual) é o preservativo: popularmente conhecido como camisinha. Este, além de ser eficaz na prevenção da gravidez, desempenha um papel crucial na prevenção de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Essas infecções, que podem causar sérias consequências, incluem doenças como gonorreia, sífilis, herpes genital, e as causadas pelos vírus HPV (papilomavírus humano) e HIV (vírus da imunodeficiência humana). Assim sendo, o uso de preservativo é uma forma prática e acessível de proteger a própria saúde e reduzir o risco de contágio pelo contato sexual desprotegido [1].
No entanto, existem outras formas de contracepção masculina, como a vasectomia. Esta consiste em procedimento cirúrgico: uma cirurgia é realizada na região dos testículos (glândulas sexuais masculinas, localizadas no saco escrotal) com objetivo de cortar, interromper, o fluxo de espermatozoides (células sexuais masculinas responsáveis pela reprodução) para os canais deferentes. Esses canais têm a função de transportar os espermatozoides do testículo até a uretra, para liberação no ato sexual através da ejaculação. Quando esses canais são interrompidos os espermatozoides deixam de fazer parte do líquido ejaculatório. Como consequência, esta versão do líquido é incapaz de resultar em gravidez. Apesar de ser considerado um método permanente, a vasectomia pode ser revertida em alguns casos [2].
Diante das possibilidades limitadas da anticoncepção masculina, mesmo com o amplo uso de métodos contraceptivos femininos como pílulas, DIU e preservativo feminino, tem-se uma crescente busca por novos métodos de contracepção masculinos que sejam eficazes e seguros, permitindo maior controle e responsabilidade compartilhada na geração de filhos(as) [3]. Essa busca por avanços científicos objetiva que, no futuro, possa se ter uma pílula masculina acessível, complementando o uso do preservativo e dos métodos contraceptivos femininos, para se permitir maior controle sobre gravidez desejada.

Figura 1: Camisinha (à esquerda) e cartela de pílula anticoncepcional (à direita).
Fonte: https://www.metropoles.com/saude/saude-reprodutiva-vem-ai-a-pilula anticoncepcional-masculina.
Por consequência, pesquisadores vêm estudando medicamentos que possam inibir temporariamente a produção de espermatozóides. Essa linha de pesquisa busca oferecer uma alternativa de contracepção que seja acessível, eficaz e, principalmente, reversível (que o homem possa voltar à fertilidade após a interrupção do uso do medicamento), oferecendo vantagens em relação à vasectomia, por exemplo. Entre as estratégias pesquisadas para atingir-se este objetivo destacam-se as que combinam hormônios masculinos, conhecidos como androgênicos, em versões produzidas pela indústria farmacêutica com agentes que bloqueiam a produção de espermatozoides [4].
Um dos métodos em teste é uma pílula chamada DMAU, que consegue diminuir a produção de espermatozoides sem afetar a saúde ou o desejo sexual dos homens [5]. Outra alternativa em desenvolvimento é um gel contraceptivo de uso diário, aplicado na pele, que combina dois hormônios capazes de interromper temporariamente a fabricação dos espermatozoides de forma segura [6]. Além disso, pesquisadores estudam uma substância chamada adjudin, que faz com que as células que ajudam a produzir espermatozoides parem de funcionar por um tempo, sem prejudicar outras funções do organismo [7]. Tais abordagens tem como objetivo controlar o funcionamento do sistema reprodutor masculino, sem impacto duradouro e sem efeitos indesejados significativos.
Estas estratégias ainda estão em fase de testes, mas já demonstram desenvolvimento promissor. Os pesquisadores estão otimistas com o potencial dessas novas opções, que podem representar uma mudança significativa na participação masculina no planejamento familiar, oferecendo uma alternativa segura além do preservativo e da vasectomia.
Entretanto, mesmo que esses avanços na pílula contraceptiva masculina cheguem a resultar no medicamento, a sua ampla adoção pelos homens dependerá de fatores como aceitação social, acessibilidade, e segurança a longo prazo [8]. Logo, é esperada uma abordagem multidisciplinar (envolvendo profissionais da saúde e sociólogos) juntos à sociedade, para garantir que as soluções atendam às necessidades biológicas e sociais dos futuros usuários [9].
Referências Bibliográficas
[1] Brasil. 2025. Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/i/ist. Acesso em: 03 ago. 2025.
[2] Stormont G et al. 2025. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing. Disponível através do link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK549904/ Acesso em: 03 ago. 2025.
[3] Oliveira CG, Santos RP. 2022. Responsabilidades partilhadas na contracepção masculina. The Conversation. Disponível
através do link: https://theconversation.com/contraceptivos-hormonais-masculinos-responsabilidades-partilhadas-entre-homens-e-mulheres-245335. Acesso em: 03 ago. 2025.
[4] Almeida LA et al. Novas perspectivas na contracepção masculina hormonais e não hormonais: uma revisão. Revista Brasileira de Saúde Reprodutiva, v. 47, n. 2, p. 115-124, 2023.
[5] Thirumalai A et al. Effects of 28 Days of Oral Dimethandrolone Undecanoate in Healthy Men: A Prototype Male Pill. J Clin Endocrinol Metab., v. 104, n. 2, p. 423-432, 2019.
[6] Ilani N et al. A new combination of testosterone and nestorone transdermal gels for male hormonal contraception. J Clin Endocrinol Metab., v. 97, n. 10, p. 3476-3486, 2012.
[7] Cheng YH et al. Adjudin--A Male Contraceptive with Other Biological Activities. Recent Pat Endocr Metab Immune Drug Discov., v. 9, n. 2, p. 63-73, 2015.
[8] CNN Brasil. 2023. Pílula anticoncepcional masculina entra em testes clínicos pela primeira vez. Disponível
através do link: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/pilula-anticoncepcional-masculina-entra-em-testes-clinicos-pela-1a-vez/ Acesso em: 03 ago. 2025.
[9] Silva MT, Pereira AC. Desafios e avanços na contracepção masculina. Sess. Especial de Saúde, v. 32, v. 3, p. 123-130, 2019.