
Fibromialgia: Definição, causa e tratamento
Renata Monteiro Alves Costa¹, Carolina Alves De Oliveira Gotelip², Carolina Souza Rabelo Ferreira³, Giovanna Carolina Mendes Barbosa¹, Lara Letícia de Sena Moreira², Larissa Gabrielle Batista Ferreira², Lívia Sofia Faria Aleixo³, Priscila Oliveira Tavares²
¹ Graduandas do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
² Graduandas do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
³ Graduandas do curso de Enfermagem (UFSJ-CCO)
v.3, n.7 2025
Julho de 2025
A fibromialgia (FM) pode ser compreendida como uma doença reumatológica (doença que acomete o sistema locomotor e pode afetar ossos, articulações e outros) que se manifesta principalmente no sistema musculoesquelético e se espalha por várias partes do corpo. É crônica (de longa duração) e causa dores musculares leves ou insuportáveis. Essa doença apresenta-se como uma síndrome que atinge mais de 1,9 bilhões de pessoas no mundo inteiro, com maior ocorrência no sexo feminino: 4,2% de mulheres em comparação a 0,2% dos homens; sua porcentagem de ocorrência varia de acordo com a idade, mas não há uma correlação clara entre idade/variações hormonais e a patologia em questão [1]. Além das dores difusas, pacientes com FM se queixam de fadiga, falta de sono, rigidez matinal, dormência e sensação de inchaço nos braços e pernas, dificuldades no processamento de informações (podendo afetar a memória, atenção, linguagem e outros), desconforto abdominal e a inflamação da uretra. É importante ressaltar que a fibromialgia não está apenas relacionada ao desgaste dos músculos, ossos ou articulações, mas também relaciona-se com questões psicológicas e sociais em pacientes diagnosticados com FM [2].
A causa específica da FM ainda não foi descoberta. Algumas das hipóteses são: distúrbio no processamento da dor, traumas psicológicos, alterações na imunidade; acredita-se que a evolução da FM depende da interação desses fatores com o indivíduo [3]. Os resultados das pesquisas sobre a sua fisiopatologia (estudo das funções anormais do organismo durante doenças, por exemplo) são contraditórios , mas acredita-se que alterações comportamentais, imunológicas, neuroendócrinas e aspectos psicossociais contribuem para o surgimento da FM e seu desenvolvimento nos pacientes [4].
Um dos principais sintomas da FM são dores no corpo que, na maior parte dos casos, costuma ser pior nas costas e no pescoço, e esses mesmos sintomas podem piorar com a realização de esforço físico, estresse emocional ou exposição a climas frios. Outros sinais e sintomas da FM podem ser definidos, como previamente mencionado, por sensibilidade nas áreas doloridas, rigidez difusa e estresse emocional [5]. Na maioria dos casos, a febre não é um sintoma característico da fibromialgia. Sintomas psicológicos de FM – como ansiedade e depressão – também podem surgir, já que é comum a pessoa apresentar desespero e impotência diante da doença, vindo a perder o interesse nas atividades que antes apreciava realizar. Outros sintomas que costumam estar presentes são cansaço frequente, gerando distúrbio no sono, rigidez muscular, problemas de memória, falta de concentração e até mesmo síndrome do intestino irritável (Figura 1)[2].

Figura 1: Mulher com dores da FM.
Fonte: https://mmo.com.br/fibromialgia-conceito-e-tratamento/
A fibromialgia é o terceiro diagnóstico mais comum em clínicas reumatológicas (locais que cuidam e fazem exames para descobrir e tratar problemas nas juntas e nos ossos) [5].
Na verdade a FM é pode ser entendida como um conjunto de diversos distúrbios e, portanto, precisa de tratamento por meio de equipe multidisciplinar (e não apenas de reumatologistas) [6]. Vários estudos demonstram preocupações no subdiagnóstico (deixando-se de diagnosticar quando de faz presente a FM); há vários relatos de pacientes que convivem com dor crônica e outros sintomas por longos períodos antes de receberem diagnóstico adequado [7]. De acordo com Wang et al. (2015) “cerca de 75% dos pacientes com FM não são diagnosticados, e uma média de 5 anos são necessários antes que o diagnóstico definitivo seja efetuado. Esse fato leva à uma demora no tratamento e, assim, grande parte dos especialistas acreditam que a sociedade médica deve dedicar mais atenção a estes pacientes; reconhecer suas condições e ajudá-los com a melhor evidência científica disponível [8]. O diagnóstico melhora a satisfação do paciente em relação à qualidade de vida.
Desde 2016, faz-se uso dos critérios revisados do Colégio Americano de Reumatologia para classificação e diagnóstico de FM [9].
Por se tratar de uma doença relacionada à dores em diferentes partes do corpo, a FM deve ser tratada de duas formas por especialistas da área da saúde: com tratamentos naturais e com uso de medicamentos prescritos (depois de uma observação minuciosa do paciente em questão), mesmo que haja apenas melhora parcial. Tratamentos que não envolvem o uso de medicamentos em geral são exercícios psicoeducacionais (atividades que ajudam a entender melhor os sentimentos, pensamentos, comportamentos e a aprender maneiras de lidar com eles no dia a dia) adaptados para cada paciente, isto é, sendo necessária a atenção devida para que se avalie o grau da dor de cada paciente [10]. Avaliações biomecânicas e exercícios moderados com o devido acompanhamento de fisioterapeutas experientes é o recomendável. Como a FM está associada com o estresse emocional, um psicólogo deve participar do tratamento, dando maior prioridade para quem possui quadro de ansiedade ou quadro depressivo [11].
Enquanto isso, os tratamentos que envolvem o uso de medicamentos têm como destaque o uso da amitriptilina em baixa dose: uma das primeiras opções terapêuticas para manejo da dor e distúrbios do sono. Entretanto, os estudos que apoiam seu uso são escassos, porque sua taxa de sucesso não é tão elevada e o medicamento pode resultar em aumento de peso [12]. A duloxetina na dose de 60 mg/dia é recomendada para tratar pelo menos parte da dor e da ansiedade. O milnaciprano é um antidepressivo, e pode ser usado para modular a percepção da dor e melhorar a qualidade de vida do paciente; na dose recomendada de 100 mg não há ganho de peso, mas sim melhora das dores pois o remédio atua no regular de sensação de bem-estar [13]. A pregabalina é um medicamento usado no tratamento da dor, da falta de sono e da ansiedade, e portanto, pode ser usada em pacientes com FM [14]. Por fim, o tramadol também pode ser usado para auxilar os pacientes. No entanto, ressalta-se que codeína, fentanil e oxicodona são contra-indicados [15]. Não há evidências experimentais de eficácia no uso de paracetamol, e há algumas evidências de que anti-inflamatórios considerados não esteroidais podem ser ineficazes [10].
Portanto, apesar da causa da FM ainda não ser totalmente compreendida, seu tratamento deve envolver uma abordagem multidisciplinar, unindo medicamentos, terapias físicas e apoio psicológico. Além disso o diagnóstico precoce e o cuidado individualizado são fundamentais para um melhor controle da doença e para oferecer ao paciente uma melhor qualidade de vida.
Referências Bibliográficas
[1] Mills SEE et al. Chronic pain: A review of its epidemiology and associated factors in population-based studies. British Journal of Anaesthesia, v. 123, n. 2, p. 273-283, 2019.
[2] Salaffi F et al. Identifying the symptoms and functional domains in patients with fibromyalgia: results of a cross-sectional Internet-based survey in Italy. J Pain Res, v. 9, p. 86-279, 2016.
[3] Carvalho LS et al. May genetic factors in fibromyalgia help to identify patients with differentially altered frequencies of immune cells? Clinical and Experimental Immunology, v. 154, n. 3, p. 346-352, 2008.
[4] Pernambuco AP et al. The involvement of melatonin in the clinical status of patients with fibromyalgia syndrome. Clinicaland Experimental Rheumatology, v. 33, n. 1, p. S14-9, 2015.
[5] Cabo-Meseguer A et al. Fibromialgia: prevalencia, perfiles epidemiológicos y costes económicos. Medicina Clínica, v. 149, n. 10, p. 441-448, 2017.
[6] Segura-Jiménez V et al. Fibromyalgia has a larger impact on physical health than on psychological health, yet both are markedly affected: The al-Ándalus project. Seminars in Arthritis and Rheumatism, v. 44, n. 5, p. 563-570, 2015.
[7] Henschke N et al. The Epidemiology and Economic Consequences of Pain. Mayo Clinic Proceedings, v. 90, n. 1, p. 139-147, 2015.
[8] Wang SM et al. Diagnóstico de fibromialgia: uma revisão do passado, presente e futuro. Expert Review of Neurotherapeutics, v. 15, n. 6, p. 667-679, 2015.
[9] Gerhardt A et al. Chronic Widespread Back Pain is Distinct From Chronic Local Back Pain. The Clinical Journal of Pain, v. 32, n. 7, p. 568-579, 2016.
[10] Macfarlane GJ et al. EulaR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Annals of the Rheumatic Diseases, v. 76, n. 2, p. 318-328, 2016.
[11] Kwiatek, R. Tratamento da fibromialgia. Australian Prescriber, v. 40, n. 5, p. 179-183, 2017.
[12] Galliano SA et al. Evidências de revisões sistemáticas Cochrane sobre o tratamento da fibromialgia. Diagnóstico e tratamento, v. 22, n. 4, p. 184-196, 2017.
[13] Cording M et al. Milnaciprano para dor na fibromialgia em adultos. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2015. Disponível através do link: https://doi.org/10.1002 /14651858.cd008244.pub3. Acesso em: 08 jul. 2025.
[14] Derry S et al. Pregabalina para dor na fibromialgia em adultos. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 2016, n. 9, p. 70-84, 2016.
[15] Littlejohn GO et al. Os opioides desempenham um papel no tratamento da fibromialgia? Pain Management, v. 6, n. 4, 347-355, 2016.