
Humanização do Cuidado Médico: Desafios e Possibilidades no Contexto do SUS
Kevelyn Moreira Libório¹, Regis Honorio Prado¹, André Lima Mamud¹, Beatriz Monteiro Ribeiro², Eduardo Bergamasco Thomé¹, Mateus Henrique Martins Gomes¹, Natália Pereira Junqueira¹, Pedro Cazarin Cruz¹
¹ Graduandos do curso de Medicina (UFSJ-CCO)
² Graduando do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
v.3, n.6 2025
Junho de 2025
O cuidado médico humanizado (Figura 1) é uma abordagem amplamente valorizada em ambientes hospitalares. Trata-se de uma atitude simples, fundamentada na escuta, atenção e sensibilidade por toda carga emocional e individual do paciente, contribuindo positivamente para a promoção da saúde coletiva. Diante dos desafios encontrados no sistema público de saúde nacional - caracterizado por longas filas de espera, consultas breves, atendimento mecanizado e uma rede de suporte fragmentada - o acompanhamento atencioso resgata o paciente como protagonista, criando um ambiente mais acolhedor [1].

Figura 1: Atendimento médico hospitalar humanizado.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hospital_Dom_Walfrido_assist%C3%AAncia.jpg.
Esse tema é essencial nas discussões sobre práticas assistencialistas efetivas e respeitosas, ao passo que propõe uma abordagem ética extremamente necessária no atendimento ao público. Pesquisas indicam que o reconhecimento da individualidade de cada ser humano centrado no diálogo atento e comprometido, fortalece o vínculo entre médico e paciente, favorecendo a adesão ao tratamento proposto [1,2]. Portanto, a incorporação dos aspectos psicossociais de cada indivíduo durante o cuidado médico requer valorização e mudança comportamental dos sujeitos inseridos nesse contexto: gestores, trabalhadores e usuários do sistema.
A Política Nacional de Humanização (PNH), instaurada pelo Ministério da Saúde em 2003, busca consolidar práticas mais humanas nos serviços de saúde no Brasil. Essa proposta baseia-se em relações solidárias entre todos os níveis da escala hospitalar, tornando como base a comunicação entre todos os setores. Dessa forma, a política propõe a criação de laços alicerçados na autonomia e na ação transformadora do meio em que vivem [3]. A PNH conta com o apoio do movimento HumanizaSUS, o qual busca provocar mudanças significativas no atendimento por meio da construção de redes colaborativas alinhadas pelo bem comum [3,4].
Contudo, a prática da assistência empática, que se coloca no lugar do outro, ainda enfrenta barreiras a serem superadas. Uma das questões mais discutidas como fator dificultador da concretização plena da PNH é o paradigma biomédico centrado na medicalização (transformando em questões médicas até aquilo que não deveria ser) e em diagnósticos fechados [5]. Dessa forma, o distanciamento entre profissionais e usuários constrói relações frágeis que não se sustentam a longo prazo e prejudicam diretamente a saúde do indivíduo [2,5]. Nota-se que a falta de capacitação profissional continuada e de qualidade no ensino humanizado, faz com que, cada vez mais, os pacientes sejam tratados por características biológicas (que o definem como ser vivo) e patológicas (focadas na doença), desconsiderando suas perspectivas psicológicas [6]. Ademais, é relevante citar que aspectos desfavoráveis no ambiente de trabalho também atuam como fatores que diminuem a humanização do indivíduo na prática profissional, dentre eles, destacam-se a baixa remuneração, carga horária exaustiva e a falta de funcionários [7].
A atuação sensível às necessidades humanas requer medidas ampliadas aos profissionais da saúde para que se promova melhorias concretas ao bem estar social. Por isso, é necessário que haja estratégias que qualifiquem e incentivem o engajamento da população ao tema [2]. Modelos de treinamentos, ferramentas para o diálogo, investimentos estruturais, ambientes seguros e equipados tendem a favorecer a consolidação de um atendimento centrado nos princípios atribuídos pelo HumanizaSUS [4,6]. A conscientização de todos os profissionais que atuam nessa área também é um aspecto facilitador para que todas essas medidas sejam efetivamente colocadas em prática. O atendente deve ser capaz de compreender a importância do seu papel diante do usuário que lhe confia a sua própria vida, e se expõe de forma vulnerável. Assim, é fundamental que haja qualificação na sua capacidade de ouvir com atenção e responder às demandas mais íntimas e subjetivas daquele paciente [2,6].
Por fim, é importante enfatizar que a prática humanitária deve ser entendida como uma ação cotidiana e integral a todos os níveis de atenção à saúde. A construção de ambientes acolhedores e a valorização em todas as esferas profissionais são condições indispensáveis para a concretização de um cuidado essencialmente afetuoso. A adoção de condutas empáticas contribui para uma saúde mais justa, satisfatória, solidária e eficaz. Uma vez implementadas, tais atitudes reforçam os princípios de universalidade (para todos), equidade (que reconhece a diferença entre as pessoas oferecendo a cada um aquilo que ele necessita) e integralidade (da prevenção à reabilitação) do Sistema Único de Saúde (SUS), ao propor meios para uma abordagem equilibrada, que não apenas lida com a doença de forma padronizada, mas que busca a completude humana de cada indivíduo [2,8].
Referências Bibliográficas
[1] Oliveira BRG et al. A humanização na assistência à saúde. Rev Latino-Am Enfermagem, v. 14, n. 2, p. 277-284, 2006. Disponível através do link: https://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 05 jun. 2025.
[2] Silva JA et al. Humanização na Atenção Primária à Saúde (APS): uma revisão integrativa sobre os modelos de gestão e os impactos na qualidade do cuidado aos pacientes. Lumen et Virtus, v. 15, n. 39, p. 2012-2020, 2024. Disponível através do link: https://doi.org/10.56238/levv15n39-033. Acesso em: 05 jun. 2025.
[3] Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS – Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus. Acesso em: 05 jun. 2025.
[4] Rede HumanizaSUS. Sobre. Disponível através do link: https://redehumanizasus.net/sobre/. Acesso em: 05 jun. 2025.
[5] Silva AF et al. Entre ouvidos e palavras: um ensaio sobre medicina narrativa, redes sociais e humanização na Atenção Primária à Saúde. Interface (Botucatu), v. 27, p. e220467, 2023. Disponível através do link: https://doi.org/10.1590/interface.220467. Acesso em: 05 jun. 2025.
[6] Natal HFMG et al. Humanização nos serviços de saúde: perspectivas de profissionais atuantes na atenção primária à saúde. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, v. 26, n. 3, p.1033–1043, 2022. Disponível através do link: https://doi.org/10.25110/arqsaude.v26i3.20229016. Acesso em: 05 jun. 2025.
[7] Goulart BNG, Chiari BM. Humanização das práticas do profissional de saúde – contribuições para reflexão. Ciênc. Saúde Colet., v. 15, n. 1, p. 255-268, 2010. Disponível através do link: https://www.scielo.br/j/csc/a/RVHxfzBfnS8pMb6nvCqcWpp. Acesso em: 05 jun. 2025.
[8] Brasil - Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível através do link: https://www.gov.br/saude/pt-br/sus. Acesso em: 05 jun. 2025.