Órgãos artificiais: a engenharia de tecidos
Ana Letícia B. Breancini¹, Camille P. Mansur², Iara Cecília Silveira Castro¹, Leticia Cerqueira¹
¹Graduandas do curso de Farmácia (UFSJ-CCO)
²Graduanda do curso de Bioquímica (UFSJ-CCO)
v.2, n.4, 2024
Abril de 2024
O número de pacientes que sofrem com doenças crônicas não transmissíveis como câncer, diabetes mellitus e hipertensão arterial tem aumentado nas últimas décadas e com isso o número de pessoas com falência de determinados órgãos e que precisam de doação/transplante tem se expandido. Impedimentos como número de doadores insuficientes e incompatibilidade com os doadores disponíveis ocasionam um tempo de aguardo muito grande gerando consequências altamente prejudiciais para o indivíduo que precisa de um órgão vital; este pode, inclusive, falecer enquanto aguarda [4].
Com o objetivo de amenizar o problema de transplante de órgãos no Brasil, que atingiu, em julho de 2019, mais de 35,5 mil pessoas na lista de espera, o médico e pesquisador brasileiro, Gabriel Liguori, criou a TissueLabs. A startup desenvolve diversos suprimentos para criação de órgãos e tecidos humanos em laboratório por meio da chamada “engenharia de tecidos” [1,3].
A engenharia de tecidos é uma nova área da medicina que ainda não chegou à clínica de maneira significativa, mas que, muito provavelmente, chegará nos próximos anos. Ela utiliza células, principalmente células-tronco, para a regeneração de órgãos. Pode-se atingir esta renovação tanto com terapia celular quanto através da engenharia de tecidos, que envolve fabricar um órgão novo para implante [2].
Com funcionamento iniciado em 2019, a empresa TissueLabs direciona suas atividades à pesquisa, ao desenvolvimento e à comercialização de produtos voltados para o desenvolvimento de órgãos em laboratório. Seus produtos incluem bioimpressora 3D (Figura 1), hidrogéis e a plataforma digital [2].
Motivado pelo fato de ter sido submetido a uma cirurgia para correção de uma cardiopatia congênita aos dois anos de vida, Gabriel Liguori se tornou médico e tomou como objetivo de vida ajudar crianças com a mesma complicação. O empreendedor revelou em entrevista à Forbes Brasil: “Quando voltei da Holanda, tive a oportunidade de começar um laboratório de pesquisa e fiquei por dois anos focado em construir um coração bioartificial para transplante” [3].
Figura 1: Bioimpressora TissueStart [2].
Fonte: Reprodução: Léo Ramos Chaves.
Liguori possui trajetória de estudo e trabalho na área. Seu interesse, já existente em atuar neste campo, foi potencializado para a criação da empresa durante congresso de cirurgia cardíaca pediátrica. Ele revelou à revista Forbes: “Conheci uma pesquisadora que trabalhava com vasos arteriais fabricados em laboratório. Achei aquilo incrível e vi que era o futuro da medicina”. Após essa primeira interação com o tema em âmbito científico, Liguori realizou um doutorado na USP com extensão na Universidade de Groningen, na Holanda. A tese que defendeu foi sobre abordagens de engenharia de tecido com foco na área cardiovascular [3].
O principal desafio para construir órgãos artificiais com impressoras 3D é a sua grande limitação para a maturação dos tecidos. Segundo Liguori é comum que a impressão de órgãos não conduzam à obtenção de um órgão funcional, pois nem todos os detalhes dos tecidos conseguem atualmente serem reproduzidos no impresso, como é o caso da densidade celular. Nas impressões 3D atuais, existem cerca de 10 milhões de células por mililitro, enquanto que em um coração real, no mesmo volume, existem quase 1 bilhão de células [2].
O caminho para o uso clínico ainda é extenso, com intervalo de tempo suficiente para desenvolver-se novas tecnologias e realizar-se mais pesquisas na área [3].
A iniciativa de Gabriel Liguori representa uma perspectiva promissora no âmbito dos transplantes de órgãos. A engenharia de tecidos e o desenvolvimento de tecnologias avançadas é um caminho interessante para se pensar na redução da fila de espera. A área de transplante desenvolve-se rapidamente apesar dos desafios que enfrenta e iniciativas inovadoras como esta oferecem esperança de solução para milhares de pessoas. Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico deve ser um aliado do campo da saúde, impactando positivamente a qualidade e expectativa de vida da população.
Referências Bibliográficas
[1] Santana C. Produção de órgãos em laboratório coloca médico da USP entre os mais inovadores da América Latina: Gabriel Liguori, CEO da startup TissueLabs e pesquisador do Incor, foi indicado ao prêmio Innovators Under 35 LATAM do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (IMT). Disponível através do link: <https://jornal.usp.br/universidade/producao-de-orgaos-em-laboratorio-coloca-medico-da-usp-entre-os-mais-inovadores-da-america-latina/>. Acesso em: 09 abr. 2024.
[2] Jones F. Gabriel Liguori: Um coração bioartificial no horizonte: Criador da startup TissueLabs conta como tem buscado superar os desafios para a construção de tecidos e órgãos humanos em impressoras 3D. Disponível através do link: <https://revistapesquisa.fapesp.br/gabriel-liguori-um-coracao-bioartificial-no-horizonte/>. Acesso em: 09 abr. 2024.
[3] Riga M. Healthtech brasileira está no caminho para viabilizar impressão em 3D de órgãos humanos: TissueLabs, criada pelo médico e empreendedor Gabriel Liguori, desenvolve bioimpressoras e biotintas. Disponível através do link: <https://forbes.com.br/forbes-tech/2021/07/healthtech-brasileira-esta-no-caminho-para-viabilizar-impressao-em-3d-de-orgaos-humanos/>. Acesso em: 09 abr. 2024.
[4] Moreira Fernandes JP. Bioimpressão 3D: a produção artificial de órgãos. Medtalks, 2020. Disponível através do link: < https://medtalksufu.medium.com/bioimpressão-3d-a-produção-artificial-de-órgãos-7a1aab6e03b9>. Acesso em: 09 abr. 2024.